Passei alguns dias matutando sobre como escrever a respeito de Uchiha Sasuke, um dos protagonistas de Naruto, e um personagem que é mais popular entre os fãs do que o próprio Naruto. Eles são opostos em quase tudo, Sasuke é um gênio, vindo de um clã de ninjas temido e poderoso pelos poderes de seus olhos, o sharingan, enquanto Naruto é um parvo. Sasuke é um sujeito indiferente, apesar disso, ou talvez por causa disso, todas as garotas o idolatram, enquanto Naruto não é nada popular e luta para chamar a atenção. Ambos são órfãos, mas Naruto jamais conheceu seus pais, enquanto Sasuke viu todo o seu clã ser massacrado pelo seu irmão mais velho Uchiha Itachi, que era a “elite da elite”. Naruto luta para se tornar a personificação do espírito de fogo de Konoha, o Hokage, e possui algo que faz com que as pessoas se sintam bem próximo a ele, já Sasuke é movido por um único objetivo, a vingança. Sua vida é orientada por esse objetivo, tornar-se mais forte para matar seu irmão Itachi e vingar seu clã. Sasuke é um vingador, e apenas sua vingança importa, mais nada.
Sasuke termina por ser seduzido por Orochimaru, outro personagem sumamente interessante, um ninja que almeja o poder supremo, o conhecimento de todas as técnicas e poderes ninjas, e para tanto deseja a imortalidade. Orochimaru possui como principal arma o uso de serpentes e poderes similares aos das cobras e para se manter sempre jovem, a cada três anos troca de corpo, como uma cobra troca de pele. Ele almeja obter o sharingan, e por isso seduz o jovem Sasuke com promessas de poder. Poder, eis outros dos aspectos fundamentais desse personagem, Sasuke é um “demônio do poder”, não há espaço nele para o amor, pois onde impera o poder o amor fenece.
Sasuke derrota Orochimaru e rouba para si os poderes relativos às serpentes que haviam sido dele outrora, e soma esses poderes a sua técnica ocular o sharingan. A serpente, em muitos mitos, é o símbolo do espírito aprisionado a terra, as exigências cinéticas, meramente físicas e instintivas. Num mito indígena narrado por Campbell, dois caçadores estavam no deserto quando viram se aproximar uma mulher de estranha beleza, um deles a desejou carnalemente, ao se aproximarem uma névoa os engolfou e quando ela se dissipou aquele que a olhara de modo impróprio havia sido reduzido a um esqueleto devorado por serpentes, destino similar ao de Acteon que contemplou a nudez da casta Artemis e foi transformado em um cervo e devorado por seus próprios cães de caça. A serpente, com sua capacidade de mudar de pele, também é freqüentemente mostrada nos mitos como símbolo de imortalidade, na epopéia de Gilgamesh, ela rouba dele o elixir da vida eterna, e no mito Indiano, o rei das serpentes Vasuki concorda em se enrodilhar no monte Meru, a montanha cósmica e ser a corda puxada por deuses e titãs para bater o oceano primordial e obter a manteiga da imortalidade. Em muitas mitologias, a base do mundo é sustentada pela cabeça de uma serpente, segundo Campbell “serpente do mundo inferior, cuja cabeça sustenta a terra e que representa os poderes demiúrgicos e geradores de vida do abismo”, ainda segundo Campbell:
As torrentes se precipitam a partir de uma fonte invisível. Seu ponto de entrada é o centro do círculo simbólico do universo, o Ponto Imóvel da lenda do Buda, em torno do qual, pode-se dizer, o mundo gira. Sob esse ponto, encontra-se a cabeça — suporte da terra — da serpente cósmica, o dragão, que simboliza as águas do abismo — a energia e a substância divinas, criadoras de vida, do demiurgo, o aspecto gerador do mundo do ser imortal47. A árvore da vida, isto é, o próprio universo, cresce nesse ponto. Está enraizada na escuridão e sustentada por ela; o pássaro dourado do sol está empoleirado em sua copa; uma fonte, poço inexaurível, borbulha a seus pés.
A serpente representa a profunda camada inconsciente onde estão guardados todos os fatores da existência que foram rejeitados, subdesenvolvidos, ou simplesmente desconhecidos. O poder dos Uchiha, que se manifesta em seus olhos, pode sofrer uma transformação e radical aumento de poder, através de um ritual horrendo de morte. Com o sacrifício do melhor amigo, que deve ser assassinado se consegue o segundo nível de poder, o Mangekeyo Sharingan, mas esse nível ainda não é perfeito, pois ele lentamente perde a luz, o terceiro estágio requer que o próprio irmão seja morto e seus olhos implantados, tornado perfeito o poder ocular dos Uchiha. Temos nesse horrendo ciclo de assassínios do clã Uchiha um eco das mitologias das plantas e dos povos agricultores, onde surge a idéia de que vida e morte estão intimamente relacionadas e que quanto mais morte mais vida. Os caçadores de cabeça matam e decepam a cabeça de uma vítima para celebrar o ritual do casamento, a geração de uma nova vida é propiciada apenas através do sacrifício de outra. Muitos outros são os exemplos dos tétricos rituais de morte relacionados a essa concepção mítica.
Os poderes oculares dos Uchiha são nomeados a partir de divindades Xintoístas, cada olho emana um dos poderes. A idéia não é original, ela está presente nas narrativas fabulosas dos Kamis japoneses. Amaterasu, a encarnação feminina do sol nasceu do olho esquerdo de Izanagi, e Tsukuyomi, e kami da lua, nasceu de seu olho direito. Susano-o, o nome de uma das outras técnicas oculares, é o kami das tempestades. Todas as técnicas Uchiha estão intimamente relacionadas a religião folclórica japonesa. Uma das mais importantes narrativas míticas da religião folclórica japonesa diz respeito a Amaterasu e seu irmão Susano-o.
Amaterasu (天照 com o significado de “ilumina o paraíso”), ou Amaterasu-ōmikami (天照大神 ou 天照大御神 com significado de “grande deusa/espírito/kami que ilumina o paraíso”) ou ainda Ōhiru-menomuchi-no-kami (大日孁貴神). O termo deusa/deus, na religião xintoísta possui conotações razoavelmente distintas das que utilizamos usualmente nas tradições oriundas de um pano de fundo judaico/cristão o que faz com que seu uso seja problemático em referencia as personagens míticas do Xintô, sendo o termo original para esses personagens kami (神, que dependendo do kanji também pode significar cabelo ou papel e que em algumas histórias populares leva a certos jogos de palavras). A maioria das histórias referentes à Amaterasu são provenientes de duas fontes principais: o Kokiji e o Nihongi .
Amaterasu nasceu do olho esquerdo de Izanagi (イザナギ em kanas, ou como se encontra no Kokiji 伊弉諾, e no Nihongi como 伊邪那岐 ou ainda 伊弉諾尊, normalmente traduz-se como “fêmea que convida”). A parte da lenda que vai interessar ao escopo desse trabalho diz respeito à rusga entre Amaterasu e seu turbulento e desrespeitoso irmão Susa-no-O-no-Mikoto (須佐之男命, normalmente traduzido como “macho impetuoso”). Amaterasu vivia em Takama-ga-hara (高天原, literalmente “alta planície do paraíso”) onde possuía vastos arrozais, seu irmão, Susa-no-O-no-Mikoto, (que é descrito em detalhes no Nihongi como uma divindade turbulenta, de péssima índole que freqüentemente resultava em atos de crueldade extrema e que, apesar de suas longas barbas, tinha o hábito de chorar e gritar como uma criança pequena, capaz de atos extremos de destruição apenas por manha) estava em visita às terras de sua augusta irmã no paraíso. Na realidade essa visita não passava de um ardil do grande kami, pois devido ao seu terrível humor e péssimo comportamento, seus pais o haviam banido para as terras inferiores de Yomi (黄泉, ou Yomi-no-Kuni 黄泉の国, literalmente “país das fontes amarelas” em uma referência a um texto chinês mais antigo), todavia, antes de partir como um filho obediente e temente a seus pais, ele suplicou que eles deixassem que ao menos se despedisse de sua amada irmã, somente depois disso, partiria ele para todo o sempre (a viagem a Yomi era sem retorno). Nas terras celestiais o turbulento e caótico kami das tempestades não tardou a causar sérios transtornos, como veremos. Amaterasu foi avisada da chegada de seu irmão pelos gritos transtornados dos mares, montanhas e colinas que presenciaram a ascensão de Susa-no-O-no-Mikoto, desconfiada das intenções dele, a divindade solar preparou-se para a guerra adornando-se com os símbolos de sua majestade e armando-se de espada e arco e escondendo-se em um buraco. Susa-no-O-no-Mikoto, entretanto, agiu de maneira recatada, humilde e penitente. Obviamente Amaterasu ficou desconfiada e testou sua sinceridade, e por fim, acabou convencida da boa-fé de seu irmão.
Como era de se esperar, a boa conduta do grande kami teve vida curta, e em um ato de vandalismo ele destruiu os campos de arroz que eram orgulho de Amaterasu. Não satisfeito, um dia ao ver sua irmã, em seu salão sagrado, tecendo os ornamentos para os grandes kamis junto de suas duas servas, fez um buraco no teto por onde jogou o cadáver de um cavalo que ele havia previamente removido a pele. Devido ao susto, Amaterasu se feriu e uma de suas servas morreu, ferida com a agulha de fiar (que teria perfurado sua genitália em algumas versões). Irritada o kami solar decidiu abandonar o mundo e se escondeu em uma caverna que selou com uma enorme pedra, deixando tudo e todos, kamis e humanos, privados de sua luz e imersos em espessas trevas. Devido a essa catástrofe nefasta as oito mil miríades de kamis se reuniram as margens do rio do paraíso para elaborar um plano que os permitisse persuadir Amaterasu a retornar ao mundo e livra-lo das trevas eternas. Os kamis elaboraram um plano após consultarem vários oráculos, e com estrelas forjaram um espelho e vários instrumentos musicais e jóias. Na verdadeira árvore Sakaki eles penduraram as jóias e dispuseram miríades de aves celestiais, depois para executar o plano apelaram para Ame-no-Uzume-no-mikoto (天宇受売命 “alarmante fêmea celestial”) a divindade do poente, da alegria e contentamento, ela devia despertar a curiosidade de Amaterasu, para tanto ela começou a dançar de forma muito imodesta, exibindo seus seios e genitália. Os demais kamis aplaudiram, gritaram e riram vivamente da exibição da divindade. Ao ouvir todo esse estardalhaço Amaterasu espiou por uma fresta para ver o que acontecia, movida pela curiosidade ela perguntou ao kami mais próximo o que era a fonte de tal estardalhaço, como parte do plano, ele disse que se tratava de uma bela divindade e apontou para um espelho onde Amaterasu se viu refletida, encantada com sua própria aparência ela teria dito “omoshiroi” que significa: “faces brancas” e “fascinante”, dessa forma ela saiu da caverna e foi convencida pelos demais kamis a voltar a fornecer luz e calor a todos.
Amaterasu nasceu do olho esquerdo de Izanagi (イザナギ em kanas, ou como se encontra no Kokiji 伊弉諾, e no Nihongi como 伊邪那岐 ou ainda 伊弉諾尊, normalmente traduz-se como “fêmea que convida”). A parte da lenda que vai interessar ao escopo desse trabalho diz respeito à rusga entre Amaterasu e seu turbulento e desrespeitoso irmão Susa-no-O-no-Mikoto (須佐之男命, normalmente traduzido como “macho impetuoso”). Amaterasu vivia em Takama-ga-hara (高天原, literalmente “alta planície do paraíso”) onde possuía vastos arrozais, seu irmão, Susa-no-O-no-Mikoto, (que é descrito em detalhes no Nihongi como uma divindade turbulenta, de péssima índole que freqüentemente resultava em atos de crueldade extrema e que, apesar de suas longas barbas, tinha o hábito de chorar e gritar como uma criança pequena, capaz de atos extremos de destruição apenas por manha) estava em visita às terras de sua augusta irmã no paraíso. Na realidade essa visita não passava de um ardil do grande kami, pois devido ao seu terrível humor e péssimo comportamento, seus pais o haviam banido para as terras inferiores de Yomi (黄泉, ou Yomi-no-Kuni 黄泉の国, literalmente “país das fontes amarelas” em uma referência a um texto chinês mais antigo), todavia, antes de partir como um filho obediente e temente a seus pais, ele suplicou que eles deixassem que ao menos se despedisse de sua amada irmã, somente depois disso, partiria ele para todo o sempre (a viagem a Yomi era sem retorno). Nas terras celestiais o turbulento e caótico kami das tempestades não tardou a causar sérios transtornos, como veremos. Amaterasu foi avisada da chegada de seu irmão pelos gritos transtornados dos mares, montanhas e colinas que presenciaram a ascensão de Susa-no-O-no-Mikoto, desconfiada das intenções dele, a divindade solar preparou-se para a guerra adornando-se com os símbolos de sua majestade e armando-se de espada e arco e escondendo-se em um buraco. Susa-no-O-no-Mikoto, entretanto, agiu de maneira recatada, humilde e penitente. Obviamente Amaterasu ficou desconfiada e testou sua sinceridade, e por fim, acabou convencida da boa-fé de seu irmão.
Como era de se esperar, a boa conduta do grande kami teve vida curta, e em um ato de vandalismo ele destruiu os campos de arroz que eram orgulho de Amaterasu. Não satisfeito, um dia ao ver sua irmã, em seu salão sagrado, tecendo os ornamentos para os grandes kamis junto de suas duas servas, fez um buraco no teto por onde jogou o cadáver de um cavalo que ele havia previamente removido a pele. Devido ao susto, Amaterasu se feriu e uma de suas servas morreu, ferida com a agulha de fiar (que teria perfurado sua genitália em algumas versões). Irritada o kami solar decidiu abandonar o mundo e se escondeu em uma caverna que selou com uma enorme pedra, deixando tudo e todos, kamis e humanos, privados de sua luz e imersos em espessas trevas. Devido a essa catástrofe nefasta as oito mil miríades de kamis se reuniram as margens do rio do paraíso para elaborar um plano que os permitisse persuadir Amaterasu a retornar ao mundo e livra-lo das trevas eternas. Os kamis elaboraram um plano após consultarem vários oráculos, e com estrelas forjaram um espelho e vários instrumentos musicais e jóias. Na verdadeira árvore Sakaki eles penduraram as jóias e dispuseram miríades de aves celestiais, depois para executar o plano apelaram para Ame-no-Uzume-no-mikoto (天宇受売命 “alarmante fêmea celestial”) a divindade do poente, da alegria e contentamento, ela devia despertar a curiosidade de Amaterasu, para tanto ela começou a dançar de forma muito imodesta, exibindo seus seios e genitália. Os demais kamis aplaudiram, gritaram e riram vivamente da exibição da divindade. Ao ouvir todo esse estardalhaço Amaterasu espiou por uma fresta para ver o que acontecia, movida pela curiosidade ela perguntou ao kami mais próximo o que era a fonte de tal estardalhaço, como parte do plano, ele disse que se tratava de uma bela divindade e apontou para um espelho onde Amaterasu se viu refletida, encantada com sua própria aparência ela teria dito “omoshiroi” que significa: “faces brancas” e “fascinante”, dessa forma ela saiu da caverna e foi convencida pelos demais kamis a voltar a fornecer luz e calor a todos.