quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Aaron Swartz e o manifesto da Guerrilla Open Access

“Informação é poder. Mas, como todo o poder, há aqueles que querem mantê-lo para si mesmos. A herança inteira do mundo científico e cultural, publicada ao longo dos séculos em livros e revistas, é cada vez mais digitalizada e trancada por um punhado de corporações privadas. Quer ler os jornais apresentando os resultados mais famosos das ciências? Você vai precisar enviar enormes quantias para editoras como a Reed Elsevier.

Há aqueles que lutam para mudar esta situação. O Movimento Open Access tem lutado bravamente para garantir que os cientistas não assinem seus direitos autorais por aí, mas, em vez disso, assegura que o seu trabalho é publicado na internet, sob termos que permitem o acesso a qualquer um. Mas mesmo nos melhores cenários, o trabalho deles só será aplicado a coisas publicadas no futuro. Tudo até agora terá sido perdido.

Esse é um preço muito alto a pagar. Obrigar pesquisadores a pagar para ler o trabalho dos seus colegas? Digitalizar bibliotecas inteiras mas apenas permitindo que o pessoal da Google possa lê-las? Fornecer artigos científicos para aqueles em universidades de elite do Primeiro Mundo, mas não para as crianças no Sul Global? Isso é escandaloso e inaceitável.

“Eu concordo”, muitos dizem, “mas o que podemos fazer? As empresas que detêm direitos autorais fazem uma enorme quantidade de dinheiro com a cobrança pelo acesso, e é perfeitamente legal – não há nada que possamos fazer para detê-los. Mas há algo que podemos, algo que já está sendo feito: podemos contra-atacar.

Aqueles com acesso a esses recursos – estudantes, bibliotecários, cientistas – a vocês foi dado um privilégio. Vocês começam a se alimentar nesse banquete de conhecimento, enquanto o resto do mundo está bloqueado. Mas vocês não precisam – na verdade, moralmente, não podem – manter este privilégio para vocês mesmos. Vocês têm um dever de compartilhar isso com o mundo.  E vocês têm que negociar senhas com colegas, preencher pedidos de download para amigos.

Enquanto isso, aqueles que foram bloqueados não estão em pé de braços cruzados. Vocês vêm se esgueirando através de buracos e escalado cercas, libertando as informações trancadas pelos editores e as compartilhando com seus amigos.

Mas toda essa ação se passa no escuro, num escondido subsolo. É chamada de roubo ou pirataria, como se compartilhar uma riqueza de conhecimentos fosse o equivalente moral a saquear um navio e assassinar sua tripulação. Mas compartilhar não é imoral – é um imperativo moral. Apenas aqueles cegos pela ganância iriam negar a deixar um amigo fazer uma cópia.

Grandes corporações, é claro, estão cegas pela ganância. As leis sob as quais elas operam exigem isso – seus acionistas iriam se revoltar por qualquer coisinha. E os políticos que eles têm comprado por trás aprovam leis dando-lhes o poder exclusivo de decidir quem pode fazer cópias.

Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir para a luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública.

Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja armazenada, fazer nossas cópias e compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar material que está protegido por direitos autorais e adicioná-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na Web. Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. Precisamos lutar pela Guerilla Open Access.

Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte mensagem de oposição à privatização do conhecimento – vamos transformar essa privatização em algo do passado. Você vai se juntar a nós?
Aaron Swartz
Julho de 2008, Eremo, Itália.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sobre ser Pai


Meu filho Ícaro vai completar 8 anos esse mês de janeiro, desde os 4 anos de idade ele pratica Kung Fu e Ninjutsu, e desde os seis ele pratica budismo tibetano. Eu sempre leio para ele antes de dormir, já lemos todas as fábulas de Fedro e Esopo e centenas de parábolas budistas, além de mitos nórdicos, o Hobbit, tentei ler Confúcio para ele, mas não deu muito certo e agora estamos lendo o Macaco Peregrino. Certa feita estávamos jogando videogame e ele acidentalmente apagou o save do jogo após horas de partidas o que me deixou profundamente irritado ao que ele retrucou “pai, tudo é impermanente, esse jogo também, você não deveria estar tão apegado a ele”, contei isso a minha mestra a venerável Bikuni Anizamba Chozom e ela riu e me disse “you are a good teacher”.

O Ícaro é muito ciumento e possessivo, a despeito de ser budista, e ultimamente vinha sistematicamente me dizendo que eu sou um péssimo pai e reclamando horrores de mim para a mãe e as avós, isso tudo por ciúmes em virtude de eu estar prestes a me casar novamente. Aconteceu uma coisa inusitada esses dias, que o fez parar com esse comportamento. Ele me ligou no meio da noite, estava na casa da mãe, e disse “pai, desculpa pelas coisas que eu disse sobre você”, fiquei meio aturdido, mas respondi “tudo bem filho, papai não fica chateado não, eu entendo que é muita coisa para você absorver, papai te ama”, “eu também te amo pai”, “hoje nós nem nos vimos e o Cláudio (eletricista) nem veio consertar as coisas”, “é, o Cláudio é fogo”. Fiquei achando que a mãe dele ou a avó tinham conversado com ele, dado algum sermão ou algo do tipo, mas não foi nada disso.

No dia seguinte, minha mãe me contou o que se passou, segundo a Cristiane, mãe do Ícaro, lhe havia narrado. Eles estavam vendo TV quando passou uma reportagem muito triste sobre crianças órfãs, sem pai nem mãe, vivendo de maneira precário em orfanatos. Ao ver aquilo ele disse para a mãe “mãe, meu pai é muito bom, ligue pra ele para eu pedir desculpas, eu devia mandar uma carta para a televisão agradecendo por essa reportagem”, e ela ligou e vocês já sabem o que ele me disse.

Eu tive um péssimo pai, na verdade ele nem se deu ao trabalho de ser péssimo, ele não foi nada, simplesmente ausente. Isso sempre me levou a me esforçar ao máximo para ser muito presente para o meu filho, como meu avô sempre foi presente na minha vida. Meu avô era um homem forte, duro, generoso e de alma larga, um homem de seu tempo e repleto de defeitos, mas eu sempre podia contar com ele, isso foi algo que jamais falhou enquanto ele viveu. As vésperas do aniversário de oito anos do meu filho, acho que posso estar orgulhoso dele, acho que tenho feito um bom trabalho como pai, aos oito anos ele foi capaz de se corrigir sozinho, de refletir e perceber o erro em seu comportamento, se arrepender e admitir isso e pedir desculpas, coisa que algumas pessoas jamais aprendem. Eu tenho dificuldade com elogios, raramente eu os aceito de imediato, sou extremamente rigoroso comigo mesmo, mas acho que posso aceitar o elogio da minha mestra, talvez eu seja mesmo um bom professor, mas melhor do que isso, eu sei que tenho um bom filho.