quinta-feira, 14 de abril de 2011

Diálogo sobre a vacuidade

Esse é um trecho de um livro de um lama tibetano, que está postado em um blog sobre budismo muito interessante chamado Dakini Lounge, me parece que há três anos a autora não faz postagens, o que é uma pena. Esse diálogo é bastante instrutivo sobre a vacuidade e também muito inspirador.

Atisha foi um grande erudito e mestre de meditação indiano, abade do monastério budista Vikramashila na época em que o budismo mahayana florescia na Índia. Quando foi para o Tibet, ajudou a restabelecer o budismo no país. O mestre viveu entre 982 e 1054, sua linhagem ficou conhecida Kadampa. Lâmpada sobre o caminho para alcançar a iluminação está entre os seus maiores ensinamentos e foi incluido no livro Iluminando o Caminho do Dalai Lama. De suas inúmeras pérolas reproduzo o famoso diálogo que teve com um de seus mais importantes discípulos, Dromtönpa.

 

Dromtönpa: Qual é o ensinamento absoluto?

Atisha: De todos os ensinamentos, o absoluto é a vacuidade, da qual a compaixão é a própria essência. É como um remédio muito poderoso, uma panacéia que pode curar cada doença do mundo. E assim como esse poderoso remédio, a realização da verdade da vacuidade — a natureza da realidade — é o remédio para todas as diferentes emoções negativas.

Dromtönpa: Então por que tantas pessoas que afirmam ter realizado a vacuidade não têm menos apego e ódio?

Atisha: Porque a realização delas está apenas nas palavras. Se elas realmente tivessem entendido o verdadeiro significado da vacuidade, os seus pensamentos, palavras a ações seriam tão suaves quanto caminhar sobre um pano de algodão ou como a sopa de tsampa com manteiga. O mestre Aryadeva disse que até mesmo querer saber se todas as coisas são vazias por natureza ou não faria o samsara cair em pedaços. A verdadeira realização da vacuidade, portanto, é a panacéia última que inclui todos os elementos do caminho.

Dromtönpa: Como cada elemento do caminho pode estar incluído dentro da realização da vacuidade?

Atisha: Todos os elementos do caminho estão contidos nas seis perfeições transcendentes. Agora, se você verdadeiramente realizar a vacuidade, você se tornará livre do apego. Se você não sentir desejo ou apego por qualquer coisa de dentro ou de fora, você sempre terá a generosidade transcendente. Estando livre do desejo e do apego, você nunca será maculado pelas ações negativas e sempre terá a disciplina transcendente. Sem quaisquer conceitos de "eu" e "meu, você não terá raiva, então sempre terá a paciência transcendente. Com sua mente verdadeiramente feliz pela realização da vacuidade, você sempre terá a diligência transcendente. Sendo livre da distração, que vem do apego às coisas como sendo sólidas, você sempre terá a concentração transcendente. Com você não conceitualiza qualquer coisa em termos de sujeito, objeto e ação, você sempre terá a sabedoria transcendente.

Dromtönpa: Aqueles que realizam a verdade tornam-se buddhas simplesmente através da visão da vacuidade e da meditação?

Atisha: De tudo que percebemos como formas e sons, nada há que não surja da mente. Realizar que a mente é a consciência indivisível da vacuidade é a visão. Manter esta realização na mente em todos os momentos e nunca se distrair dela é a meditação. Praticar as duas acumulações como sendo uma ilusão mágica dentro deste estado é a ação. Se você fizer uma experiência viva desta prática, ela continuará em seus sonhos. Se ela vier no estado dos sonhos, ela virá no momento da morte. E se ela vier no momento da morte, ela virá no estado intermediário entre a morte e o renascimento. Se ela estiver presente no estado intermediário, você pode estar certo de que atingirá a realização suprema.


por Patrul Rinpoche em The words of my perfect teacher)

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