sábado, 20 de novembro de 2010

A Onda dos Vampiros ontem e hoje

Outro dia, passeando pela livraria cultura e observando os títulos em inglês me espantei com a grande quantidade de livros sobre vampiros. Além daqueles mais conhecidos e badalados havia um grande número de outras publicações das quais jamais ouvira falar. Dentre os títulos mais conhecidos certamente se destacam os livros da série Twilight, além de alguns outros como Vampire Diaries, que inspirou Twilight e True Blood, meu preferido.

Me espanta e me leva refletir o interesse sobre vampiros, e não apenas vampiros, me espanta mais ainda o crescente interesse sobre zumbis, com um número enorme de jogos, filmes e livros enfocando a temática de um apocalipse repleto de zumbis comedores de cérebros. Em um post futuro, pretendo fazer uma análise mais detalhada em termos de mitologia comparada e psicologia sobre o que significa esse interesse todo por mortos vivos, mas por hora, meu intuito é lembrar ao caro leitor que o interesse por vampiros não é de hoje, e me parece até mesmo algo cíclico e que muito do que se produz sobre vampiros hoje traz a marca da antiga “onda” de sanguessugas.

Muitos anos atrás houve um interesse crescente sobre vampiros, um tema que a época parecia, com o perdão do trocadilho, morto. O filme Drácula de Bram Stoker, com os excelentes atores Gary Oldman, Winona Rider, Anthony Hopkins, e Keenu Reeves e a sempre lindíssima Monica Belluci e dirigido pelo ótimo Francis Ford Copolla, nos idos de 1992, foi um dos marcos do ressurgimento dos vampiros. Baseado no clássico do escritor irlandês Bram Stocker, o filme retratava o famoso conde Drácula. Ainda na década de noventa, para ser mais preciso, em noventa e quatro, outro filme sacudia a poeira dos caixões e fomentava o interesse de uma geração inteira pelos vampiros, era Entrevista com o Vampiro, com os atores Brad Pitt, Cristian Slatter e Tom Cruise, além da participação de Antonio Bandeiras. O filme se baseava no livro homônimo de Anne Rice, escrito em 1973 e publicado em 1976 e que com a ajuda do filme, ajudou a imortalizar o vampiro Lestat. As “crônicas vampirescas” contaram ao todo com dez livros de grande sucesso.



Ainda na década de noventa, Wesley Snipes fazia sucesso com o fraquíssimo Blade: o caçador de vampiros. Diferente dos outros filmes, neste, baseado não em literatura, mas em quadrinhos da Marvel, os vampiros não eram seres sobrenaturais, mas pessoas infectadas por uma doença ou vírus que lhes dava poderes e fraquezas de vampiros. Nas lutas mostradas no filme, Snipes destruía dezenas de vampiros, que pareciam ser feitos de papelão, com uma facilidade assustadora.



Todavia, de toda a onda de dentuços e sanguessugas da década de noventa, nenhum outro título foi mais abrangente e posteriormente copiado, do que a série de livros de RPG criada por Mark Rein Hagen Vampire the Masquerade. É preciso que se diga logo de início que a principal idéia original de Rein Hagen, talvez a única, tenha sido possibilitar aos jogadores ser vampiros. Ele tirou os vampiros do batido papel de antagonistas e deu a uma geração de jogadores de RPG a possibilidade de se tornarem as próprias criaturas das trevas, ou “Cainitas” como eram chamados no jogo. Tudo o mais nos livros de Rein Hagen é derivativo ou plágio descarado, uma imensa colcha de retalhos, mas que mesmo assim, estabeleceu todos os clichês do gênero que são seguidos a risca pelos vampiros do século vinte e um.



A rivalidade entre vampiros e lobsomens, que é algo hoje quase canônico, é algo copiado dos livros de Vampire The Masquerade, a atitude de segredo e discrição dos vampiros, e a preocupação de manter sua existência um segredo dos meros mortais, como pode ser visto hoje em dia em Twilight, é o tema central de Vampire, a tradição da “máscara” o segredo da existência dos vampiros no mundo moderno. O meu seriado de vampiros preferiod True Blood, subverte esse clichê do gênero que se popularizou com os livros da White Wolf, a editora de Rein Hagen, em True Blood todos sabem que vampiros existem. Os Vulturi em Twilight, são um arremedo da complexa e extremamente intrincada e multifacetada sociedade “cainita” descrita com riqueza de detalhes nos muitos livros de Vampire. No início, o RPG de Rein Hagen pretendia ser um jogo de horror pessoal, mas logo descambou para aquilo que se tornaria sua verdadeira vocação: illuminati. Um jogo de intriga política, com dezenas de clãs lutando por controle sobre o mundo sobrenatural e o mundo mortal.

Os livros da White Wolf, cujo primeiro de centenas de títulos foi Vampire the Masquerade lançado em 1991, fizeram estrondoso sucesso. O jogo possuía um sistema de regras muito ruim, utilizando dados de dez faces, mas empolgava pela temática. Havia treze clãs de vampiros a princípio, cada um com poderes e fraquezas específicos e uma sociedade vampirica a “camarilla” que organizava as cidades e “principados” e mantinha as leis e “tradições” ancestrais dos vampiros. A série de filmes Under World é francamente baseada no mundo “gothic-punk” mostrado nos livros de Vampire e chega quase a ser um plágio descarado. O que é talvez sua maior homenagem a Rein Hagen, que não teve pejos de copiar tudo o que havia disponível sobre vampiros e usar em seu livro. Os Xerifes vampiros e tribunais de vampiros mostrados em True Blood são cópias da organização Camarilla de Rein Hagen, que foi esmiuçada e detalhada a exaustão em dezenas de suplementos de RPG e romances. Assim como em True Blood e Twilight, os vampiros de Rein Hagen viviam, ou morriam não sei, um conflito entre preservar suas naturezas humanas ou ceder aos seus instintos predatórios, a “besta”. Esse era o mote do “terror pessoal” do jogo, mas logo tornou-se um elemento secundário, dando espaço para a intriga política e a paranóia como temas principais.



No Brasil também tivemos nossa cota de sanguessugas, sem trocadilhos, o autor André Vianco, tornou-se notório por suas histórias de vampiros. Eu li a princípio “O Sétimo” e depois “Os sete” e gostei muito, mas qual não foi a minha decepção ao descobrir que os demais livros desse autor eram extremamente ruins, a exceção dos dois já citados. Suas demais obras não me agradaram, nem um pouco na realidade. Bem, está longe de chegar o dia em que será colocada em definitivo uma estaca no coração dessa onda de vampiros, que parece sempre se renovar, na TV no cinema e nas páginas dos livros. Ao invés da fraquíssima Buffy, ou do ainda pior Angel (spin off de Buffy), temos o ótimo True Blood, e ao invés do excelente “Interview with the Vampire” temos o fraco Twilight. É, ganha-se umas perde-se outras...





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