O
ministro Sérgio Moro é um fenômeno peculiar a ser analisado, especialmente sua ascensão
e queda, que acompanha o surgimento e ocaso do “governo” que ele
desavergonhadamente ajudou a eleger.
Visto
em retrospecto, quando ele sai da seara jurídica, onde de fato ele tinha
super-poderes, devido a uma incapacidade do judiciário seguir suas próprias
regras e se auto-regular, em virtude de suas ligações intestinas com os poderes
políticos e econômicos, bem como com suas ligações íntimas com a religião,
especialmente as neo-pentecostais ou com o catolicismo mais tacanho, justo em
sua atuação política, seus limites tornam-se auto-evidentes.
Moro
é politicamente incapaz, tacanho, sem a menor compreensão de como funcionam os
meandros de nossa república, ele é um perfeito representante de sua classe
social, o funcionalismo público de classe média alta: um sujeito incapaz de
fazer uma leitura precisa da sociedade onde vive, que desconhece a história da
nossa nação, sem qualquer traquejo político, e que se julga o parâmetro real da
sociedade em termos de ideias e comportamentos. Ele é alguém para quem seus
privilégios se convertem em uma venda, que o impedem de aceitar, admitir ou
compreender a diversidade e desigualdade de nossa nação. É sempre bom lembrar,
somos uma nação marcada pela violência, exclusão, pela mancha indelével de
nossos 300 anos de escravidão, e pelo nosso lamentável racismo estrutural. Moro
é uma amálgama de tudo isso. Basicamente ele é um medíocre com delírios de
grandeza. Ele é um homem médio, e Jung definia
psicologicamente o homem médio como alguém que tem apenas uma coisa na cabeça.
Talvez Moro entenda de direito, se ele realmente entender terá sido
profundamente desonesto e venal como juiz, mas talvez nem disso ele realmente
entenda.
Moro
é medíocre, mas assim como muitos iguais a ele, se aproveitou da nossa pretensa
meritocracia, pois passar no concurso para juiz federal exige uma dedicação
exclusiva, vários anos estudando em cursinhos especializados em dar dicas
certeiras sobre os tipos de prova e que mais cai, que é algo possível apenas em
que pode se dar ao luxo de passar de 3 a 5 anos sem trabalhar e estudando não
para ser juiz, reparem, mas para passar no concurso, coisas distintas. Moro é o
resultado de um acúmulo de privilégios e profundas desigualdades sociais, e foi
preparado para ter autoridade e não a sabedoria para exercê-la. Além de tudo,
ele tinha uma certeza quase paranoica de sua própria grandeza, ele almejava não
simplesmente acabar com a corrupção, mas fundar uma nova república, estava
quase numa missão divina, embriagado pela própria vaidade e orgulho. Essa mesma
miopia parece ser um traço comum em seus pares, uma cegueira que os faz
observar o mundo como um construto subjetivo, porém desconhecido, suas ações e
discurso mostram que ele lidava com suas fantasias sobre o Brasil e sobre
si-mesmo, e não com a maneira como as coisas se comportam, mas a realidade
objetiva está aí para nos cobrar um preço inelutável.
Como
ministro de um governo pífio e pusilânime ele deparou com a complexidade
kafkiana de nosso presidencialismo de coalisão, onde sua vontade não impera
soberana, teve de lidar com o humor mercurial das massas, que já não o vê como
herói salvador da pátria, e com o humor perverso dos brasileiros que
rapidamente ao notar suas óbvias falhas as transformou em piada. Moro não passa
de um exemplo do “senso comum ilustrado”, ele é um tolo diplomado, algo que
grassa em um país tão desigual como o nosso, um técnico sem qualquer visão de
mundo para além dos preconceitos tacanhos de sua classe, mas com delírios de
grandeza. Moro esperava ser obedecido, mas acabou sendo apenas escarnecido. Ao se
tornar ministro ele uniu a sua pusilanimidade ao ridículo desse governo, ele é
apenas mais um piada de mal gosto. Mas Moro é legião, milhares de jovens de
classe média alta, racistas, tacanhos, burros e limitados estão viajando para
fazer concursos, e sendo adestrados como cães para passar em algum deles e
depois desfrutar de sua ignorância numa posição de poder e prestígio, que
apenas confirma seus preconceitos afetivos e quimeras. Moro só mostra o
resultado nefasto da nossa proverbial desigualdade, um tolo togado, sem o menor
traquejo político, sem erudição, nem mesmo erudição jurídica, sem a menor
compreensão sociológica da nossa realidade, e inflado pela sua persona de Juiz.
Moro se identifica com o cargo que ocupa, mas sabe ele que sua personalidade
tacanha e ignóbil foi apenas engolida pelo manto de autoridade de juiz, que não
depende de sua personalidade, mas da sociedade que o cerca. Jung chamava essa
condição de neurose de identificação com
a persona, ele não é uma pessoa tridimensional, mas um juiz apenas, em
geral que se identifica com sua posição social o faz justamente por ser
pusilânime e isso o leva a crer que o poder e a majestade da toga não sejam da sociedade,
coletivos, mas uma aquisição individual, ele é poderoso e majestoso.
Seu
cargo de ministro desvelou para todos a pequenez de sua alma, e são esses
homens pequenos e ridículos que nos governa, são esses micróbios morais e
intelectuais que passam nos concursos para juiz, devido aos privilégios
atávicos e horrendos que os 300 anos de escravidão nos legaram, quase como uma
maldição a pairar sobre nossas cabeças, o sangue dos escravos que está até hoje
em nossas mãos nos amaldiçoa a sermos para sempre atrasados e provincianos,
pois até hoje matamos a criatividade e o talento daqueles que não têm a cor ou
o sotaque correto, precisamos urgentemente entender que Moro é a cara do Brasil
que não queremos: uma nação escravocrata, desigual, violenta, machista e
elitista. A permanência dessa maldição interessa a muito poucos, é preciso lembrar
Deleuze ao dizer que a minoria somos todos e a maioria não é ninguém, mas
apenas um forma vazia que vez ou outra é preenchida por alguém: homem, macho e
cidadão. Moro por algum tempo foi essa maioria, mas só se pode ser maioria ao
se abdicar de si mesmo, e isso tem um preço elevado que ele agora paga com sua
própria carne.
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