sábado, 30 de março de 2019

O Futuro do governo Bolsonaro


Hoj em dia, tenho muito receio de fazer análises e previsões acerca do governo Bolsonaro, porque errei em quase todas as que fiz, eu e todos os demais analistas políticos. Todos nós subestimamos o poder das redes sociais e de fake news absurdas, do anti-petismo, dos movimentos neo-pentecostais pautados por um irracionalismo surreal, e, principalmente, o subestimamos o espírito reacionário de uma parte considerável de nossa gente. Para piorar super-estimamnos o poder da mídia tradicional, a influência econômica nas campanhas (sempre tão caras) e, pior de tudo, super-estimamos a realidade... Mesmo diante de todos esses erros, cometemos ainda outros equívocos acerca da atuação de Bolsonaro no poder, nós acreditávamos que ele seria um novo Hitler, que seria fascista e autoritário, que teríamos uma segunda republica de Weimar, mas o que vemos é simplesmente um novo Jânio Quadros, ainda mais patético, nós subestimamos grosseiramente a incompetência de Jair e seu clã.
O destino do governo Bolsonaro parece incerto, mas me arrisco a novas previsões, ao menos compreendo que os velhos modelos nos servem pouco para entender o que se passa. A primeira coisa a se compreender é que Bolsonaro não é um governante autoritário. Ele é um grosseirão, que gosta de exaltar a ditadura e vocaliza os mais horrendos preconceitos atávicos de nossa avelhantada república escravocrata, mas fora isso, ele sequer consegue controlar os filhos, não é capaz de unir seus aliados, seu governo não possui nem o menor traço de coesão e coerência, ao invés disso, seus aliados vivem uma constante guerra por território e prestígio o que denota justamente uma ausência de comando. Algo básico, quando não há uma hierarquia clara, ela vai se estabelecer por conflito, e é isso o que vemos. Alguém realmente autoritário já teria sido, bem, autoritário, e colocado ordem na casa. Pelo contrário, Bolsonaro é fraco, vacilante, incapaz, para além de incompetente, ele é incapaz, diria até que preguiçoso. Talvez as três palavras que melhor o definam sejam burro, incapaz e preguiçoso.
Para piorar ainda mais, ele não faz nem ideia do que significa ser presidente, e herdou uma presidência fraturada, ferida de morte pelo impeachment, e com sua eficácia simbólica duramente abalada, quase destruída. Nós achávamos que ele seria um Trump, que iria usar a tática do Fire Housing para nos confundir e passar as reformas, mas creio que ele nem sabe o que significa tática. Jair permanece o mesmo, como parlamentar ele foi ineficaz, como candidato suas “qualidades”, de ser tão estúpido que dizia coisas indizíveis bem ao gosto do espírito escravocrata e assassino do nosso povo, o elegeram, mas agora essas qualidades o destroem. Quem esperava uma metanóia, que de súbito ele se tornasse um presidente, esperava por um milagre, que, obviamente, não aconteceu.
O mercado, o verdadeiro deus do Messias de araque que se sente na cadeira da presidência, está insatisfeito. Guedes, o Chicago boy, é um incompetente e um lunático. Moro é o que sempre foi, um homem de elite, acostumado aos seus privilégios de nascença, que super-estimou suas próprias qualidades e agora deve estar percebendo que não passa de um amador, sem a menor pista, o menor laivo de compreensão de como a nossa complexa república funciona, e junto do governo que ele descaradamente ajudou a eleger, seu mito e sua imagem desmoronam. Em três meses sobram escândalos e constrangimentos, há uma paralisia causada pela incompetência generalizada de todos os membros importantes do governo. Caçar comunistas inexistentes pode ser bom para dar votos, mas não serve de nada quando se está no poder, Olavo pode xingar e berrar o quanto quiser, mas não se governa sem um mínimo de habilidade.
Ciro Gomes acredita que Jair será de fato um Jânio Quadros, que diante da impossibilidade de governar irá renunciar. Os militares não parecem tão interessados em um golpe, e Jair é um fraco, não tem culhões pra isso. Um impeachment parece improvável, pois o PSDB ao destruir Dilma se consumiu no processo, e, ao contrário dos Bolsonaro, os nossos parlamentares são raposas velhas e aprendem com os erros. A cada dia um aliado se afasta, a lista já está longa: Feliciano, Pondé, Lobão, Frota, Rodrigo Maia... O fato é que um governo tão comprometido com os rentistas e o “mercado”, é melhor mesmo que não funcione, ao mesmo tempo, aqueles que mais precisam do governo, os mais pobres, ficarão à míngua por quatro longos anos. De qualquer sorte, o mais provável é que aconteça algo muito improvável, só o tempo dirá.

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