Hoj
em dia, tenho muito receio de fazer análises e previsões acerca do governo
Bolsonaro, porque errei em quase todas as que fiz, eu e todos os demais
analistas políticos. Todos nós subestimamos o poder das redes sociais e de fake
news absurdas, do anti-petismo, dos movimentos neo-pentecostais pautados por um
irracionalismo surreal, e, principalmente, o subestimamos o espírito
reacionário de uma parte considerável de nossa gente. Para piorar super-estimamnos
o poder da mídia tradicional, a influência econômica nas campanhas (sempre tão
caras) e, pior de tudo, super-estimamos a realidade... Mesmo diante de todos
esses erros, cometemos ainda outros equívocos acerca da atuação de Bolsonaro no
poder, nós acreditávamos que ele seria um novo Hitler, que seria fascista e autoritário,
que teríamos uma segunda republica de Weimar, mas o que vemos é simplesmente um
novo Jânio Quadros, ainda mais patético, nós subestimamos grosseiramente a
incompetência de Jair e seu clã.
O
destino do governo Bolsonaro parece incerto, mas me arrisco a novas previsões,
ao menos compreendo que os velhos modelos nos servem pouco para entender o que
se passa. A primeira coisa a se compreender é que Bolsonaro não é um governante
autoritário. Ele é um grosseirão, que gosta de exaltar a ditadura e vocaliza os
mais horrendos preconceitos atávicos de nossa avelhantada república
escravocrata, mas fora isso, ele sequer consegue controlar os filhos, não é
capaz de unir seus aliados, seu governo não possui nem o menor traço de coesão
e coerência, ao invés disso, seus aliados vivem uma constante guerra por
território e prestígio o que denota justamente uma ausência de comando. Algo básico,
quando não há uma hierarquia clara, ela vai se estabelecer por conflito, e é
isso o que vemos. Alguém realmente autoritário já teria sido, bem, autoritário,
e colocado ordem na casa. Pelo contrário, Bolsonaro é fraco, vacilante,
incapaz, para além de incompetente, ele é incapaz, diria até que preguiçoso. Talvez
as três palavras que melhor o definam sejam burro, incapaz e preguiçoso.
Para
piorar ainda mais, ele não faz nem ideia do que significa ser presidente, e
herdou uma presidência fraturada, ferida de morte pelo impeachment, e com sua
eficácia simbólica duramente abalada, quase destruída. Nós achávamos que ele
seria um Trump, que iria usar a tática do Fire Housing para nos confundir e
passar as reformas, mas creio que ele nem sabe o que significa tática. Jair
permanece o mesmo, como parlamentar ele foi ineficaz, como candidato suas “qualidades”,
de ser tão estúpido que dizia coisas indizíveis bem ao gosto do espírito
escravocrata e assassino do nosso povo, o elegeram, mas agora essas qualidades
o destroem. Quem esperava uma metanóia, que de súbito ele se tornasse um
presidente, esperava por um milagre, que, obviamente, não aconteceu.
O
mercado, o verdadeiro deus do Messias de araque que se sente na cadeira da presidência,
está insatisfeito. Guedes, o Chicago boy, é um incompetente e um lunático. Moro
é o que sempre foi, um homem de elite, acostumado aos seus privilégios de
nascença, que super-estimou suas próprias qualidades e agora deve estar
percebendo que não passa de um amador, sem a menor pista, o menor laivo de
compreensão de como a nossa complexa república funciona, e junto do governo que
ele descaradamente ajudou a eleger, seu mito e sua imagem desmoronam. Em três
meses sobram escândalos e constrangimentos, há uma paralisia causada pela
incompetência generalizada de todos os membros importantes do governo. Caçar comunistas
inexistentes pode ser bom para dar votos, mas não serve de nada quando se está
no poder, Olavo pode xingar e berrar o quanto quiser, mas não se governa sem um
mínimo de habilidade.
Ciro
Gomes acredita que Jair será de fato um Jânio Quadros, que diante da
impossibilidade de governar irá renunciar. Os militares não parecem tão
interessados em um golpe, e Jair é um fraco, não tem culhões pra isso. Um
impeachment parece improvável, pois o PSDB ao destruir Dilma se consumiu no
processo, e, ao contrário dos Bolsonaro, os nossos parlamentares são raposas velhas
e aprendem com os erros. A cada dia um aliado se afasta, a lista já está longa:
Feliciano, Pondé, Lobão, Frota, Rodrigo Maia... O fato é que um governo tão
comprometido com os rentistas e o “mercado”, é melhor mesmo que não funcione,
ao mesmo tempo, aqueles que mais precisam do governo, os mais pobres, ficarão à
míngua por quatro longos anos. De qualquer sorte, o mais provável é que
aconteça algo muito improvável, só o tempo dirá.