domingo, 13 de outubro de 2013

Sobre o vídeo de um assalto a mão armada em que o assaltante termina sendo baleado


É tudo muito rápido, a assalto, os tiros, a forma como ele cai, nada do glamour da violência a qual os filmes nos acostumaram, sem todo o sangue ou quedas espetaculares, só dois estampidos e alguém que cai no asfalto, possivelmente morto.


Quem vive pela espada morre pela espada, diziam os antigos, quem sou eu para julgar, não sei quem ele era, mas certamente, a despeito de sua juventude, já tinha as mãos calejadas por aquele revolver. a ação foi rápida, ele foi calmo, decidido e frio, seu algoz ainda mais frio, não se pode manejar uma arma e dirigir uma moto ao mesmo tempo. Não escrevo isto para lançar vãs teorias sobre a sociedade, a marginalidade, a política, não. Me interessa a divulgação viral desse vídeo e as reações a ele.



Muitos de nós, ao ver aquele garoto tombar se sentiram vingados, comentaram que se mais deles assim tombassem seria melhor, mais seguro para todos. Mas como? como estaremos seguros quando os "homens de bem" têm tamanha sede de sangue? Onde está a segurança se cultuamos o espetáculo mórbido da vingança, e rimos ao ouvir a vítima exclamar "agora vai roubar no inferno"? Quantos desses que assim comentam, pessoas pacatas não anseiam em seus corações por balear seu vizinho, seu chefe, sua namorada? quantos, se não fossem rematados covardes já não o teriam feito?

Medra em nossos corações uma maldade tão sutil e insidiosa que só vemos no outro. Vemos o revolver na mão no outro, mas não a granada na nossa mão, e ela pode explodir a qualquer momento. Somos todos, como seres humanos, propensos a violência, e pouco nos separa daquele coitado caido no asfalto, muito pouco mesmo. Eu desejo uma sociedade mais segura, mas como isso pode acontecer se nos colocamos em um patamar de tal superioridade moral, acima do bem e do mal, a ponto de nos sentirmos bem ao ver a brutalidade retornar aos brutalizados.

Buda, ao presenciar o espetáculo da velhice, doença e morte ficou tão abalado que isso o fez abdicar de tudo o que tinha de mais precioso em busca de um bálsamo para a condição humana, nós, hodiernamente, sequer nos chocamos, sequer ficamos espantados diante de um ser humano levando dois tiros. Nem parece real, nos filmes é bem mais real com sangue e efeitos. Eu temo que, enquanto não desarmarmos nossas almas, teremos sempre um assaltante de revolver em punho como duplo, pronto para se regozijar pelas redes vrituais diante da morte e da brutalidade daqueles que julgamos que merecem morrer... Mas se nós podemos julgar quem merece ou não morrer, por que os bandidos também não podem? Eu, de minha parte, deixo esse julgamente ao altíssimo, e me apresso a confessar a minha culpa diante desse vídeo tão espantoso e ao mesmo tempo tão banal...

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