https://youtu.be/iY_bGgAz4to
O processo de individuação é uma
problemática que surge quase sempre nos estágios finais de um processo
analítico. Jung compreende por “analítico” todo processo que se confronta com a
existência do inconsciente. Ele utiliza individuação no sentido do processo que
gera um individuum psicológico. O
processo de individuação só tem sentido diante da hipótese, calcada em
observações empíricas especialmente no campo da psiquiatria, de que o
inconsciente possui um caráter objetivo e autônomo. Essa autonomia é uma
característica geral e normal que se encontra exacerbada no caso patológico,
especialmente no campo das psicoses. Em certo sentido, para Jung, o inconsciente
pode ser entendido como “realidade in potentia”, onde se podem descobrir
qualidades desconhecidas de caráter e possibilidades futuras de
desenvolvimento. O inconsciente é como o Janus bifronte, por um lado olha para
o passado, por outro antecipa potencialmente o futuro, como Jung assevera em
seu Psicologia e Alquimia, todo conteúdo genuinamente anímico é ambivalente.
https://youtu.be/iY_bGgAz4to
A individuação é o
desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser distinto da psicologia
coletiva, que se caracteriza pela identidade e projeção, é um processo de
diferenciação, que tem por meta o desenvolvimento da personalidade individual.
Essa meta é completamente diferente do “individualismo”, que não passa de uma
“acrobacia da vontade”. O processo de individuação não leva a um isolamento,
mas a um relacionamento coletivo mais intenso e abrangente. Paradoxalmente, a
individuação pressupõe um mínimo de adaptação à norma coletiva ao mesmo tempo
em que está sempre em maior ou menor oposição a ela, pois é uma separação e
diferenciação do geral. É preciso que
fique claro que a individuação não vai contra a norma coletiva, mas se
constitui em um outro modo, se fosse uma simples oposição seria não um caminho
individual, mas uma norma antagônica, e o caminho individual nunca é norma.
Para Jung, a individuação nunca é algo simplesmente procurado pelo sujeito, mas
já se encontra fundamentada a priori
na sua disposição natural.
O inconsciente se manifesta por
meio dos sonhos, a “via régia de acesso ao inconsciente”, como Freud o chamou,
e se observados por longo período de tempo em grandes séries, é possível
perceber uma ampla teia de fatores psicológicos que obedecem a uma determinada
configuração ou esquema. Este esquema ou configuração é justamente o que Jung
denominou de processo de individuação. Há entre o inconsciente e a consciência
uma tendência reguladora que gera um processo de crescimento psíquico, e que
pode ser percebida no exame das imagens oníricas. O processo de individuação,
que é esse crescimento ou separação da psicologia coletiva e consecução do
indivíduo, não pode ser efetuado pela vontade consciente sozinha, mas se trata
de um fenômeno involuntário, autônomo, objetivo e natural. Por esse motivo não
se trata de individualismo, dos objetivos e planos egoístas da consciência, ao
contrário, muitas vezes, no processo de individuação é forçoso abrir mão desses
objetivos e planos.
A individuação é um impulso
interior de crescimento ao qual o complexo do eu deve dar ouvidos e prestar
grande atenção, e entregar-se a ele sem qualquer outro propósito ou objetivo.
Pela observação dos sonhos, ao se perceber essa complicada configuração de
imagens psíquicas, percebe-se com clareza uma tendência à ordem e uma
orientação finalística, em virtude disso, bem como de certos símbolos
específicos de caráter mitológico que aparecem no decorrer do processo, Jung
teorizou a existência de um centro regulador do psiquismo que ele chamou de Selbst em alemão. Ele pode ser entendido
como um fator de orientação íntima, que por meio dos sonhos provoca um
constante desenvolvimento e amadurecimento da personalidade. Até onde vai esse
desenvolvimento vai depender do quanto à personalidade consciente vai estar
disposta a ouvir as mensagem do Selbst
e abrir mão de seus próprios planos e desejos em prol da meta do
desenvolvimento da personalidade. O verdadeiro processo de individuação é a
harmonização do consciente com o centro interior, o Selbst. Como se pode ver, em geral, o início desse processo causa
uma lesão ao eu e isso acarreta sofrimento, pois ele se sente tolhido nas suas
vontades e desejos. Nesse sentido, como é sobejamente mostrado nos mitologemas
que envolvem jornadas heroicas, a consecução da personalidade é eivada de dores
e perigos e nem todos estão à altura da tarefa de tornarem-se quem realmente
são.