quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

LEGIÃO



Bolsonaro poderia bater no peito e, como o proverbial demônio dos evangelhos, dizer “eu sou legião!”. Muitos de nós estamos chocados por ele, mais uma vez, na tribuna da câmara federal ter dito o que ouvimos em casa, na escola, na faculdade, de pessoas que menos esperamos. Ouvimos Bolsonaro destilar ódio, misoginia e hipocrisia, com um cinismo que traveste essa atitude de coragem e virilidade, e alguns de nós ainda têm a capacidade de se chocar, todavia, lemos todos os dias comentários ainda mais absurdos nas redes sociais, apologias da violência do estupro, do tipo mais rasteiro de machismo. Não se passa um dia sequer sem que esse discurso seja repetido e se torne, lamentavelmente, cada vez mais comum e menos chocante. Bolsonaro defendia a pena de morte, mas essa bandeira nunca lhe rendeu tantos aplausos, hoje defende qualquer coisa que gere polêmica ou que o faça se sentir potente e viril, ele advoga que todo o peso do estado seja jogado sobre os ombros dos pretos e pobres da periferia, enquanto ele: homem, heterossexual, branco e cidadão; pode permanecer impune ao agredir uma mulher.

Bolsonaro fez seu discurso em um dia dedicado aos direitos humanos, direitos universais e que são a grande herança do iluminismo, são a garantia de que, ao menos em tese, somos todos humanos, não pode existir mais o “outro” a ser odiado e temido, pois “vive do outro lado do rio”, ou, por serem judeus ou ainda, talvez mais alarmante, mulheres. Bolsonaro fala com mil vozes, e, infelizmente, algumas vezes, ele fala com a nossa voz quando, mesmo sem o percebermos, perpetuamos a nossa tradição racista, machista, homofóbica, xenófoba. O melhor que podemos fazer para destituir esse senhor que se julga acima de nossa república, acima de nossas instituições, é lhe privar de, ao menos, uma de sua miríade de vozes: olhem para Bolsonaro e vejam o horror que é esse discurso que ouvimos de nossas avós, de nossas tias, de nossos colegas e vizinhos e não o repitam mais. Pratiquemos um mínimo de compaixão e empatia e talvez, um dia Bolsonaro fique mudo.

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