A
campanha ao governo do Ceará começa morna, isso depois de uma longa indecisão
por parte de Cid Gomes quanto ao nome do seu sucessor e semanas de um cenário
fluido e camaleônico, mudando ao sabor do vento e frustrando mesmo as mais
acuradas tentativas de previsão. A última reviravolta foi o rompimento público
de Luizianne Lins com o candidato do PT Camilo Santana, o que, a meu ver, fecha
um ciclo de rápidas mudanças de cenário e permite uma tentativa de análise que
não nascerá caduca.
Eunício
Oliveira possui a vantagem de sair na frente das pesquisas, o que a história
nos ensina ser uma vantagem muito relativa. O senador possui um grande recall de sua última campanha, em que,
juntamente com Pimentel, bateu pela primeira vez nas urnas Tasso Jereissati. Nessa
campanha Lula em pessoa fez um programa com ele, emprestando seu carisma e peso
político ao então candidato ao senado. Euníco conta também com a vantagem do
dinheiro, sua campanha certamente não padecerá de falta de fundos. Outra
vantagem de Eunício reside nas fraquezas de Cid. O atual governador, padrinho
político de Camilo, teve uma atuação pífia no combate a seca e na segurança
pública, talvez o aspecto mais visível dos problemas graves que assolam nosso
estado. Até ontem Cid e Eunício dividiam o mesmo palanque, mas isso não os
impedirá de se digladiarem agora como se fossem inimigos de longa data – nem
tampouco os impedirá de reatar a velha amizade assim que abaixar a poeira da
eleição.
Mas
Camilo Santana possui muitos trunfos. O petista conta com a máquina do estado,
capitaneada por Cid, com a máquina da prefeitura de Fortaleza, também sob o
controle do governador, e, além da capital, Cid possui redutos eleitorais em
mais de 50 cidades do interior. Não bastasse tudo isso, Camilo conta com o
apoio do governo federal, e Dilma já deu mostras de seu apreço pela família
Ferreira Gomes, basta lembrar da campanha de Elmano de Freitas, a presidente
sequer gravou um programa para apoiá-lo, seu eloquente silêncio só beneficiou o
atual prefeito Roberto Cláudio. Mesmo quando as coisas estavam instáveis, já se
dizia que o PT seria o fiel da balança nessa eleição e Cid escolheu um
candidato petista. Não sem razão muitos dizem que Camilo é, na verdade, um “cavalo
de Tróia” no PT, mas, a bem da verdade, ele já está no partido há 13 anos. Santana
possui obstáculos, contra ele pesam o escândalo dos banheiros, sua falta de
carisma, e o fato de não ser conhecido na capital. Quando Luizianne deixou
clara a sua posição contrária o candidato de Cid perdeu um grande trunfo, pois,
goste-se ou não, a “lora” possui um enorme capital político na capital, leia-se
votos. Roberto Cláudio, por outro lado, tem feito uma gestão vexatória, tem
sido duramente criticado, e é um péssimo cabo eleitoral para Camilo.
Luizianne
tem bons motivos para se afastar de Camilo. Ideologicamente o alinhamento do
petista a família Ferreira Gomes significa um afastamento do ideário petista,
pois, no fundo, eles são neo-liberais, a despeito de viverem das sinecuras do
estado, nascidos e criados na escola de Tasso Jereissati. Essa afirmação deve ser
vista com certa reserva, pois está cada vez mais difícil diferenciar direita de
esquerda. Mas a atual candidata a câmara federal possui outros motivos mais
pragmáticos. A eleição de Camilo significa o fim de qualquer pretensão dela ou
de Elmano se candidatarem a prefeitura de Fortaleza, ou, ao menos, tornam essa
perspectiva muito difícil. Não bastasse isso, caso Eunício seja vitorioso, seu
homem de confiança, Catanho, teria uma vaga no senado, pois é suplente de
Eunício. Existe, igualmente, uma leitura de que caso Santana seja eleito, isso
significaria a derrocada do PT, talvez seja verdade, mas é mais verdade que
isso pode significar a derrocada da DS, o grupo de Luizianne.
A
despeito disso tudo, se eu tivesse que fazer uma aposta, notem bem, uma aposta,
eu diria que Camilo tem maiores chances de se eleger. No que concerne as demais
candidaturas, sou simpático à candidatura de Ailton Lopes, seu discurso é mais
pé no chão e se distancia do discurso pseudomessiânico de Renato Roseno, além
disso, seu objetivo é o de apenas trazer à baila temas mais espinhosos ao
debate e fazer um ataque à forma tradicional de se fazer campanha e ao nosso
modelo eleitoral. O PSOL não é uma alternativa ao PT, pois eles não jogam pra
ganhar. Mesmo assim, já é um enorme avanço que, em um estado tão machista e
homofóbico quanto o nosso, um homossexual assumido seja candidato ao governo,
isso, por si só, já é digno de nota.
Eliane
Novais pode surpreender, em virtude da insatisfação dirigida a Cid e a
desconfiança em relação ao argentário Eunício Oliveira, suas chances, porém,
são muito pequenas, seria preciso uma reviravolta inaudita para vermos Novais
no governo, seu papel é o de fornecer um palanque no Ceará para Eduardo Campos,
nada mais.