Em
que pese que o pathos da derrota
ainda é recente e que existem muitas variáveis a serem analisadas, mesmo assim,
mesmo ainda no calor dos acontecimentos, tentarei ser o mais objetivo que eu
puder nesta análise. O fato que urge ser compreendido e contextualizado é a
derrota de Elmano de Freitas nas urnas na capital Alencarina após tantas e tais
vitórias significativas do PT e seus aliados na política cearense.
Acredito
que Elmano cumpriu bem o seu papel, e que não contribui para esclarecer os
fatos ficar se perguntando se os resultados seriam outros se qualquer outro
nome tivesse sido escolhido, não existe “e se” em história e esse procedimento
heurístico seria absolutamente improdutivo. O que temos diante de nós é a
derrota nas urnas de Elmano de Freitas batido por Roberto Cláudio. Há uma sutil
inflexão em se perguntar pela derrota de Elmano ou pelos fatores que levaram
Roberto Cláudio a vitória, certamente entre as respostas para as duas perguntas
existem elementos comuns, mas são perguntas com respostas e consequências
diferentes e, no momento, só possuo elementos para tentar começar a responder
por que Elmano de Freitas perdeu, ou melhor, quais as razões do fracasso
petista na capital.
Há
uma série de equívocos que se acumularam desde antes do início da eleição
propriamente dita, e creio que dois foram os mais graves. O primeiro foi a
escolha do sucessor de Luiziane feita com tão pouca antecedência. A figura de
Elmano, ou mesmo a estratégia para a sucessão, deveria ter sido pensada com uma
antecedência muito maior, para que não parecesse às pessoas de fora do partido,
algo tão artificial. É provável que a psicologia desse erro tenha influenciado
ou sido similar a dos outros erros cometidos que explicam essa derrota. O outro
erro fundamental foi ter subestimado Cid Ferreira Gomes, esse foi um erro
grosseiro, que em parte possui parentesco com o erro que apontei anteriormente,
pois em ambos pode-se perceber que há um sentimento de hybris, de desmedida e arrogância que leva fatalmente a uma
compreensão equivocada da realidade. Se é que há algo que aprendemos nessas
eleições foi a não subestimar Cid Ferreira Gomes e nem a força do poder econômico.
Creio que há mais de cem anos, nosso estado não vê um político amealhar tamanho
poder quanto Cid possui hodiernamente.
Um
sinal de alerta que não foi percebido pelos estrategistas da campanha foi o
fraco desempenho de nossos vereadores, cujas votações ficaram muita aquém da
expectativa que existia e mesmo o número de vereadores eleitos, apenas quatro,
quando pensávamos em eleger seis, talvez quiçá sete! A campanha proporcional,
assim me parece, é algo que precisa ser pensado com cuidado para se compreender
a nossa derrota. Pelo menos nesse primeiro momento eu acredito que a maioria
dos candidatos a vereador se preocupou mais com as próprias campanhas do que
com a campanha majoritária. Os motivos disso merecem maior reflexão, ou mesmo
se se trata de fato ou hipótese apenas.
Passando
a fatos mais concretos, o PT estava dividido, uma boa parte do nosso partido
esteve e está no bolso de Cid, e uma outra parte, ainda tinha na boca o gosto
amargo de ter tido seus representantes preteridos como candidatos a prefeito no
lugar de Elmano. Francisco Pinheiro, Camilo Santana e Nelson Martins tiveram
uma participação apenas “estética” na campanha de Elmano, assim como seus
respectivos grupos. Poder-se-ia contrapor a isso que o PSB também estava
dividido, que os Novais estavam contra os Ferreiras Gomes, bem como os militantes
históricos do PSB, bem, essa divisão em nada enfraqueceu Cid e Roberto Cláudio,
tendo sido no máximo um incômodo. Cid e seus irmãos são antes de tudo um grupo
familiar, que se utilizam do PSB. Algo muito diferente da organicidade de PT e
de seus membros, o que apenas demonstra a habilidade política de Cid ao cooptar
membros históricos do partido como Pinheiro e Nelson (Camilo não possui raízes
profundas no partido e possui relações mais estreitas com os Ferreiras Gomes do
que com o PT).
Nós
superestimamos o poder de Lula e sua transferência de votos. O ex-presidente
sempre foi a proverbial “carta na manga”, o grande trunfo, mas como se viu, e
contra fatos não há argumentos, o carisma e o poder de convencimento de Lula,
sozinhos, não bastaram para bater Cid Gomes. Assim como utilizamos a imagem de
Lula, associando Elmano a Lula, Roberto Cláudio utilizou a imagem de Cid, com
muito maior sucesso. Nesse ponto, nossa avaliação exagerada passou igualmente
por uma subavaliação do poder e popularidade de Cid e Ciro (que se fez muito
presente nesse pleito). Isso não significa que a participação de Lula tenha
sido sem importância, pelo contrário, foi algo da máxima importância. Todavia,
a participação dele em nossa campanha foi bem menor do que se viu em São Paulo,
ele esteve em Fortaleza no segundo turno, mas por poucas horas, e ainda com a
saúde abalada pelo tratamento exitoso contra o câncer. Além disso, a ausência
de Dilma, que não passava de uma fotografia nos materiais impressos, pesou
muito negativamente. De mãos atadas pela vasta base de sustentação ao seu
governo (praticamente todos os partidos importantes que disputaram esse pleito,
incluindo PSB, são de sua base aliada) teve que se manter silenciosa e neutra. Todavia
sua neutralidade de neutra tinha pouca coisa, afinal ela é do Partido dos
Trabalhadores e seu silêncio pesava sobre nós e fortalecia Roberto Cláudio, que
com razão, a citava frequentemente. O PSB não rompera nacionalmente com o PT, tão
pouco, no resto do estado, estavam rompidos, apenas na capital existia esse rompimento.
Outro elemento que superestimanos foi a força da aguerrida militância petista. Sem
a devida organização, estando dividida e muitas vezes desmotivada e sem o apoio
de seus líderes partidários, a militância não alterou significativamente o fiel
dessa balança tão desigual.
Finalmente,
não poderíamos deixar de notar um fato crucial, existiu nessas eleições um
poderoso sentimento anti-petista como não se via há tempos. Houve enormes
manifestações de apoio a Roberto Cláudio, principalmente por membros da classe
média e por membros das classes mais abastadas, coisa que em 18 anos de militância
eu jamais presenciara. Boa parte desse entusiasmo e apoio não era propriamente
apoio a Roberto Claudio, mas repúdio ao PT e a Luizianne Lins. A imprensa criou
para a prefeita de Fortaleza uma imagem das mais negativas, imagem essa que ela
ajudou a forjar. Sua infeliz declaração de que estava preparada para eleger até
mesmo um poste quebrado deu a nossos oponentes de presente um slogan, e mais
munição contra o PT, além disso, a frase intempestiva revela um flagrante desrespeito
pelo poder da opinião pública e há um inegável traço de arrogância e jactância.
A projeção negativa coletiva precisa de um gancho projetivo para se
estabelecer, e Luizianne forneceu esse gancho. Certamente existiu um grau elevado
de manipulação da mídia nesse caso, principalmente na percepção do valor de sua
gestão – justiça seja feita bem melhor e mais competente do que foi mostrado
pela imprensa – mas parece-me que o poder desse imaginário não foi levado em
conta em nossa estratégia. A briga pública pela mídia com Cid e Ciro foi
desnecessária e deselegante, e certamente ajudou a cimentar ainda mais essa
percepção negativa sobre a personalidade dela e sobre a gestão. A mim me
impressiona que, em São Paulo o PT tenha sido vitorioso e que em Fortaleza
tenhamos perdido e me impressiona ainda mais o sentimento anti-petista, que
mesmo as conquistas na esfera federal não puderam abafar. Se há uma lição a ser
aprendida aqui – e creio que há muitas – é que não há nada mais atual do que a
luta de classes e a reificação, e que Zizek está coberto de razão, Marx ainda é
um instrumento indispensável para compreender a realidade.
No
fim das contas o poder econômico foi o fator que desequilibrou a balança, na
reta final foi como dizem os americanos “money
talks”, e isso foi outro fator que não
levamos em conta. Confúcio dizia que existem 3 maneiras de se aprender: a mais
fácil é pelo exemplo, a mais nobre pela reflexão e a mais amarga pela experiência.
Essa mestra severa, a derrota, pode nos ensinar muito, como intelectual de
esquerda é meu dever de ofício analisar essas lições e tentar garantir que mais
pessoas possam aprender com essa experiência tão amarga. Nesse pleito, com a
prefeitura em nossas mãos, fomos batidos, em 2014 Cid terá em seu poder o
estado e a prefeitura de Fortaleza... Essa não exatamente uma perspectiva
animadora. Certamente estamos vivendo o esgotamento de um modelo de política, e
urge que pensemos outro, mas o mais grave, estaremos assistindo ao nascimento
de um ciclo de poder como foi com Tasso Jereissate? Teremos talvez, mais uns
vinte anos de oligarquia dos Ferreiras Gomes em nosso estado? Seriam os fogos
de artifício no comitê central de Roberto Cláudio o choro de nascimento desse
novo ciclo de poder capitaneado pela mão firme de Cid? Há muito o que se pensar,
principalmente em qual vai ser o papel do PT nesse novo cenário que se desenha...
Serio? Porra, td culpa entao estah nas falhas taticas do PT? Duas linhas c/ eufemismo do 'poder economico' p/ caracterizar a ESCANDALOSA E DESCARADA COMPRA D VOTOS Q ROUBOU A ELEIÇAO? Acho q dormi e acordei num outro lugar q nao eh Fortaleza. Ou terah sido soh um pesadelo? Rafael Tomyama
ResponderExcluirRafael, como eu disse no texto, estou interessado em analisar, com os elementos que tenho a mão no momento (esta é uma primeira análise)a nossa derrota, e não os motivos que os levaram a vitória (a compra de votos foi um deles), sobre a compra de votos o que podemos fazer é denunciar a opinião pública e ao ministério público, mas sinceramente não espero grandes resultados disso. quanto as nossas falhas, essas sim podemos fazer algo a respeito. a compra de votos foi um fator importante, mas vc sabe, tão bem quanto eu, que não se ganha uma eleição majoritária com compra de votos, a despeito da maneira acintosa e do flagrante desrespeito pela lei, não creio (num primeiro momento) que isso baste para explicar a nossa derrota. Além disso, esse é o momento em que devemos repensar muitas coisas do nosso partido. creio sinceramente que se não tivéssemos errado tanto, a compra de votos e boca de urna deles não teria sido tão efetiva quanto foi, mas ainda é preciso que estudemos mais e analisemos mais detidamente as informações de que dispomos, como eu disse no começo, o pathos da derrota ainda é muito recente e todos estamos afetados por ele...
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ExcluirAmarelo-sujo S.A. (ou como a 4a. capital do país foi tomada de assalto por um golpe eleitoral) http://aeceara.blogspot.com.br/2012/11/amarelo-sujo-sa.html
ExcluirA derrota do poder municipal em Fortaleza chama-se, unicamente sem tirar nem por, Luizianne Lins!
ResponderExcluirAssim como no primeiro mandato ganhou por sua teimosia (justíssima!), perde agora pela arrogância desmesurada; um horror!!! Cadê a Fortaleza Bela prometida; nem de longe nem de perto...
Abs, do Pedro Wilson Tavarez.
Creio que Luizianne e suas declarações e temosia, como você mesmo aponta Pedro, foram fatores importantes para essa derrota. sua reflexão é interessante, pq alguns desses mesmos traços de personalidade de Luizianne foram justamente fatores importantes para que ela chegasse ao poder, mas me parece que existiu uma miopia que impediu a ela e a parte dos estrategistas da campanha de avaliar corretamente a realidade, talvez oriunda justamente de um sentimento injustificado de arrogância. Todavia, não sou dado a reducionismos, nossa derrota é um fato complexo com muitas causas, mas creio que a "psicologia" de nossa derrota foi sim a Hybris, a arrogância, que nos sirva de lição e a derrota faz parte do jogo democrático...
ExcluirNunca pertenceu Newton, num regime democrático a cidade pertence ao povo, esse mesmo povo levou luiziane e o PT ao poder e o mesmíssimo povo a apeou do poder, "nunca mais" é muito tempo e, novamente, num regime democrático a alternância de poder é um fato normal, e o PT e seu projeto para a nação tem sido bem sucedido, como bem demonstram a popularidade e reconhecimento internacional de Lula e Dilma, mas apesar de não concordar, respeito a sua opinião e agradeço por expressá-la nesse espaço
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