Sou
um ávido leitor de alguns autores contemporâneos controversos, com os quais
compartilho algumas semelhanças ideológicas como Zizek e Chomsky, e,
recentemente, Noam Chomsky escreveu sobre a possibilidade eminente de nosso
mundo ser obliterado, seja por guerras, pestes ou por uma catástrofe ambiental.
São Paulo, a locomotiva do progresso moderno no Brasil, nesse exato instante,
passa por uma catástrofe ambiental de proporções bíblicas, em virtude de uma
somatória de: má administração, descaso, liberalismo exacerbado, desmatamento e
poluição, a cidade está sem água e logo terão de beber esgoto. Mas, meu ponto
é, há décadas estamos sob a sombra de uma guerra nuclear eminente, os Estados
Unidos possuem armas biológicas o bastante para inviabilizar toda a vida na
terra, existem bombas que podem virar nosso planeta do avesso, árvores
multimilenares são cortadas, espécies extintas quase que todas as semanas,
civilizações destruídas por guerras, línguas que desaparecem junto de milhares
de anos de cultura, mas e daí?
Talvez
chegue o dia em que todos estaremos vivendo a calamidade paulista, como, há
décadas, o nordeste do Brasil sofria com secas e fome periódica muitas vezes
pior do que o fracasso paulistano em gerir seus recursos ou salvar seus rios,
bem pior. Mesmo assim, continuamos caminhando a passos largos em direção ao
abismo, mesmerizados por sua escuridão, ou, como lemingues, guiados por um
propósito tão poderoso que nem mesmo a destruição eminente pode nos tirar de
nosso rumo. Acontece que somos lemingues ao avesso. Esses animaizinhos possuem
um instinto migratório tão poderoso que suplanta mesmo o instinto de
sobrevivência, eles se sacrificam aos milhares por um objetivo que está gravado
a ferro e fogo em seus corpos e que se afigura como um sentido supremo e, por
essa jornada, eles se afogam ou despeçam para a morte em penhascos. Nós, ao
contrário, carecemos tanto de um sentido, seja ele qual for, que caminhamos em
direção a destruição coletiva com uma resoluta indiferença.
Vivemos
e morremos sem saber por que vivemos e morremos. O vazio em nosso peito nos
atormenta com um silêncio profundo e eloquente, um mutismo implacável que é a
resposta usual para as perguntas essenciais a vida humana. O que estamos
fazendo aqui? Qual o nosso propósito? O abismo nos responde com o silêncio, que
é uma resposta pior do que se nos dissesse “não há propósito algum!”. Caminhamos
todos como zumbis, apodrecendo à medida que nos movemos em direção a lugar
nenhum. Elegemos inimigos contra quem vociferar, criamos prazeres excêntricos,
almejamos objetivos impossíveis mostrados nas telas das tevês e cinemas,
desejamos objetos inúteis, mas, fundamentalmente, não temos respostas para as
perguntas realmente importantes, e, sem tais respostas, tudo o que fazemos é em
vão.
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