Fui convidado, novamente, a falar aos alunos e ex-alunos
do grupo Paideia e, dessa vez, me sugeriram o tema do arquétipo do herói, que
eu prontamente aceitei. Como é comum em quase tudo o que diz respeito ao método
e a teoria criados por Jung, também esse tema se encontra profundamente
obscurecido por preconceitos e concepções equivocadas, logo, me pareceu uma
excelente oportunidade para, ao discorrer sobre ele, tentar elucidar alguns dos
maus entendidos que pairam sobre o opus
de Jung. Tendo em vista essa dificuldade – da existência de toda essa espessa
camada de equívocos – e das agruras inerentes ao tema, peço licença ao leitor
para recuar um pouco antes de poder avançar, pois, como gostava de lembrar
Jung, é preciso recuar para melhor saltar. Sendo assim, nesse nosso recuo,
pretendo deixar claras algumas peculiaridades do método que servem para,
justamente, evitar descaminhos, além de tratar da noção de arquétipo antes de
adentrar a seara a que me propus. Por certo, tanto a limitação de tempo, quanto
a dificuldade, que é explicar de maneira sucinta assuntos complicados, farão
com que, por maiores que sejam os meus esforços, esse tema seja explorado
apenas de maneira superficial.
O estudo da alma humana é, por certo, um dos mais complicados
a que podemos nos dedicar, isso em virtude da complexidade do nosso objeto de
estudo, que se apresenta como algo extremamente paradoxal. Essa característica,
associada à hipótese da existência de um inconsciente psíquico, tornam as
coisas bem mais árduas ao pesquisador sério, pois são obstáculos dos quais não
se pode desviar sem com isso perder a própria alma. Jung afirmou certa feita
que uma teoria ruim pode se sustentar indefinidamente, mas o mesmo não se dá
com um método ruim, e sua teoria vem a reboque do método e nunca o contrário,
pois ele era um empirista e isso é sempre esquecido, seja por seus detratores
ou, o que é pior, por seus defensores.
Como regra metodológica, que surge a fortiori, em virtude das características do campo de pesquisas
próprio da psicologia, Jung assevera que uma afirmação psicológica só é
verdadeira se, e somente se, eu puder também afirmar seu oposto. Pois toda
afirmação psicológica é relativa, ou, ao menos, repousa em um paradoxo
insolúvel. Além disso, em termos práticos, e isso é deveras, importante, o
único critério de validez de uma hipótese é o seu valor heurístico, isto é,
explicativo. Jung possuía um interesse prático e sua teoria não é mera
especulação ociosa, mas sim, a tentativa séria de compreender os fenômenos da
alma. Creio que talvez esse seja um bom momento para explicar ao leitor o que
se compreende por alma (Seele em
alemão) na obra de Jung, ou, como prefere o nosso espírito científico, ávido
pelo distanciamento trazido por termos gregos e latinos, a psique. De maneira sucinta, de acordo com Jung – citando os
alquimistas – a psique é o espelho do SER, é o conhecimento dele e de tudo o
que se move nele. Somente a psique é que é objeto imediato do conhecimento,
tudo o mais é mediado pela psique, a tal ponto que poderíamos afirmar que a existência
física é pura dedução, pois só temos alguma noção da matéria por intermédio de
imagens psíquicas. A noção de Jung se afasta da ideia, mais comum, de que a
psique é idêntica à consciência do eu, ao contrário, ele estende o conceito de
alma para a fórmula: psique = consciência do eu + inconsciente. Ele vai ainda
mais longe ao afirmar que a verdadeira psique é o inconsciente, e que a
consciência do eu só pode ser encarada como um epifenômeno temporário. Ainda
mais relevante, em se tratando do tema em questão, é a percepção retirada da
experiência empírica, de que é um equívoco explicar a psique de um ponto de
vista puramente pessoal, fundamentalmente, os produtos psíquicos não podem ser
encarados como mero arbítrio, não à toa, falarei aqui sobre mitos.
Acredito que seja útil apresentar o que Jung chama de
inconsciente (em alemão Unbewusste),
para tanto recorro a duas definições que são bastante claras e me agradam
sobremaneira, uma delas de M. L. Von Franz e outra do próprio Jung. Von Franz,
certa feita em uma entrevista, disse que o inconsciente é tudo aquilo que
sabemos ser psiquicamente real, mas que não é consciente. Trata-se de um
conceito limítrofe e negativo, e esse conceito negativo é utilizado para se
evitar um preconceito. O termo inconsciente é utilizado justamente porque não
diz nada. Diz apenas que não é consciente, o que permanece um mistério. Não
sabemos o que é. Fundamentalmente o inconsciente é aquilo que não sabemos.
Jung, por sua vez, também chamava o inconsciente de fato psicológico real, ou ainda, de fator existencial, irracional, inalienável. Como qualquer pessoa inteligente pode ver por si
mesma, as duas definições de Jung são autoexplicativas.
Como parece ter se tornado mais claro em nossos dias, do
que quando Jung expôs pela primeira vez sua teoria, há uma universalidade de
temas que se repetem nos mitos, para não falar da arte e dos mais diversos
fenômenos do acontecer humano. A teoria inicial de Freud compreendia o
inconsciente como sendo personalístico, ou seja, seus conteúdos só se tornavam
inconscientes pelo mecanismo do recalque ou pelo esquecimento, mais tarde ele
veio a admitir a existência de “restos arcaicos” no inconsciente. Para o homem
da antiguidade a alma possuía o caráter de microcosmo, o que, por certo, não
cabe à consciência do eu. O inconsciente, por sua vez, é outra história. Por
definição ele não pode ser circunscrito, e na prática se percebe a mesma coisa,
por isso, temos que vê-lo como algo sem limites. A percepção dos antigos, de
que a alma corresponde a um microcosmo faz sentido ao se perceber que existem
certas constantes que não são adquiridas individualmente, mas existem “a priori”, ou seja, determinações
pré-natais de modos de comportamento e funções. Modos de pensar, sentir e
imaginar comprovadamente iguais em toda a parte, independente de história,
idioma, tradição, geografia ou cultura. Podemos observar, por meio dos
mitologemas, essas constantes transculturais
e transhistóricas que se exprimem de
maneira relativamente idêntica. Podemos contemplar aqui, um dos paradoxos de
que falava a pouco, pois o inconsciente é, para usar uma expressão de Jung, a
“fortaleza do conservadorismo” fazendo com que exista um comportamento humano
típico relativamente constante, porém, esse mesmo inconsciente, é a origem de
toda a fantasia criativa.
Como disse antes, Jung repetiu exaustivamente que não era
filósofo, mas empirista. Para além de meramente afirmar tal coisa, ele sempre
foi rigoroso na aplicação do método empírico descritivo – o mesmo utilizado nas
ciências da natureza – mesmo no que concerne ao arquétipo, que muitos
consideram filosofia platônica requentada, não há nem um milionésimo de
metafísica. Jung reconhece que o termo, arquétipo, possui uma história
filosófica venerável e já se encontrava em autores da antiguidade tardia como
Filo Judeu (como referência a imago dei no homem). No Corpus Hermeticum deus é
denominado de “a luz arquetípica”, o termo também se faz presente na obra de
Dionísio Aeropagita como “arquétipos imateriais”, também santo Agostinho falava
sobre “ideias que não são formadas, mas estão contidas na inteligência divina”,
além de reconhecer e expressar que “Archetypus”
se trata de uma perífrase explicativa do idos
platônico. Fundamentalmente esses autores veneráveis tratavam do mesmo fenômeno
anímico que Jung, mas há uma diferença crucial, pois Jung não faz uso de uma
hipóstase metafísica, ele não supõe que se trate de uma realidade metafísica
realmente existente em “algum lugar acima do céu”, mas, como cientista e leitor
de Kant, ele considera essa realidade anímica independente de sua veracidade ou
irrealidade metafísica, pois sobre isso a ciência deve silenciar,
restringindo-se ao campo dos fenômenos observáveis.
Nesse sentido, os arquétipos, são, segundo sua expressão,
“conceitos experimentais” ou “conceitos empíricos”, isto é, hauridos da
experiência empírica e cuja única serventia é a de nomear um grupo de fenômenos
análogos e afins, exatamente como o termo artrópode que designa animais
invertebrados com patas articuladas. Jung se utiliza de uma interessante
alegoria para explicar a sua posição, ele afirma que seus críticos asseveram
que os arquétipos não existem e ele confirma essa crítica afirmando o mesmo: os
arquétipos não existem, assim como na natureza não existe um sistema botânico,
mas isso não significa que devemos negar a existência de famílias de plantas e
animais, ou contestar a contínua ocorrência de similaridades morfológicas e
funcionais. A alegoria é prenhe de significado justamente em virtude do método
empregado por Jung,
Devido à enorme complexidade dos fenômenos psíquicos, um ponto de vista puramente fenomenológico é sem dúvida o único possível e que promete êxito a longo prazo. [...] o campo das manifestações psíquicas, provocadas por processos inconscientes, é tão rico e múltiplo, que prefiro descrever o fato observado e quando possível classificá-lo, isto é, subordiná-lo a determinados tipos. Trata-se de um método científico, empregado sempre que nos encontramos diante de um material variado e ainda não organizado. Podemos ter dúvidas quanto à utilidade e oportunidade das categorias ou tipos de ordenamento empregados, mas não quanto ao acerto do método. (Jung, 2003, p.183).
Jung reconhecia com clareza que toda ciência natural é
descritiva quando não pode se basear em experimentos, sem com isso perder seu
caráter científico, e, além disso, uma ciência experimental torna-se inviável
quando delimita seu campo de atuação segundo conceitos teóricos. Por mais que
nessa pequena conferência o tema debatido sejam justamente os conceitos de
Jung, é de imensa importância perceber que esses conceitos fazem referência a
fenômenos e que procuram compreendê-los. Não se trata de especulação filosófica
ou racionalismo aplicado, muito menos de mitologia pura e simplesmente. A
remissão ao mito se faz com objetivo e método, Jung também não era mitólogo.
Por meio dos mitos é possível estudar a “anatomia comparada” da psique, pois as
imagens da fantasia, do delírio e do sonho têm a mesma origem anímica que os
grandes mitos e religiões de todas as épocas e lugares. A estrutura fundamental
da psique é sempre mais ou menos a mesma, em virtude desse fato, sonhos que
parecem ser individuais podem ser comparados com mitos de todas as épocas, no
sentido de esclarecê-los por meio da amplificação
(de acordo com Franz ampliar
significa alargar um tema através da junção de numerosas versões análogas).
Mas, afinal, o que Jung chama de arquétipos? Von Franz nos
diz que o arquétipo é a disposição estrutural básica para produzir uma certa
narrativa mítica, eles são fatores hipotéticos, você nunca “vê” arquétipos, mas
quando nos deparamos com um mesmo tema que se repete em diversas narrativas
míticas e que, mesmo com as variações locais, mantêm-se razoavelmente constante
isso indica, de maneira indireta, a existência do arquétipo. O arquétipo, ainda
segundo Franz, é um pensamento elementar, mas não apenas isso, ele é, também,
uma fantasia poética elementar, uma emoção elementar e um impulso elementar
dirigido a alguma ação típica, ou, como gosto de repetir: uma disposição,
atemporal, acausal, para um comportamento humano típico. Jung afiançou diversas
vezes que outros autores antes dele já falavam sobre arquétipos, quando Hubert
e Maus discorriam sobre “categorias a
priori da fantasia”, já estavam lidando com os mesmos fenômenos. Na
perspectiva Junguiana, um mitologema é um elemento estrutural da psique e
figuras míticas – como a do herói – correspondem a vivências interiores. Em uma
entrevista concedida por Jung no ano de 1955, ao falar de seus críticos ele se
utilizou de outra alegoria bastante significativa no que concerne ao seu método
e a noção de arquétipo,
É como se eu tivesse uma coleção de minerais, com diferentes pedras em numerosas gavetas. Para fins de orientação, eu etiqueto essas gavetas com descrições das pedras. Esses críticos não estão nada interessados nas pedras mas apenas nas etiquetas. Falar da existência não é a mesma coisa que a própria existência. Palavras e nomes não são objetos. Eu sou um empirista e estou interessado em fatos. O pensamento desses críticos é bidimensional, e eles não têm respeito algum pelos fatos psicológicos.
Depois de todos esses prolegômenos, passo, finalmente, ao
tema do arquétipo do herói. Que como vocês devem ter percebido, trata-se de uma
categoria, um tipo, que descreve um grupo fenomenológico. Jung tratou desse
tema principalmente em sua obra que inaugurou a Psicologia Complexa e
recentemente tornou-se centenária, o livro Símbolos
da Transformação. O que vou fazer aqui não é mais do que explicar de
maneira sucinta as conclusões de Jung nesse livro e recomendo fortemente a
leitura do mesmo.
Antes de começar gostaria de narrar uma anedota sobre esse
livro, um fulano postou na internet um link
para um blog que falava sobre o livro
Um Método Perigoso, que deu
origem a um filme lamentável, a autora do tal blog fazia uma interpretação bem
bobinha dos sintomas da aluna/paciente/amante de Jung Sabina Spielrein. Em um
comentário eu retruquei que o próprio Jung oferecia uma análise bem diversa da
dela justamente no Símbolos da Transformação,
a resposta que eu obtive foi a de que ela jamais lera tal livro e, por isso,
ficaria com sua própria interpretação. O tragicômico dessa historieta é que um
“junguiano” que jamais leu esse livro seria o equivalente a um psicanalista que
nunca se deu ao trabalho de ler a Interpretação
dos Sonhos de Freud. Por isso a minha recomendação para a leitura dessa
obra. Infelizmente casos como esse estão longe de serem raros e parecem
constituir a regra, não a exceção.
De acordo com Jung na referida obra, o Arquétipo possui um
efeito numinoso, ou seja, o sujeito é
impelido por ele assim como pelo instinto e pode até mesmo ser subjugado por esta
força. Numinoso é um termo que Jung toma de empréstimo do teólogo Rudolph Oto e
que significa uma existência ou efeito dinâmico não causado por ato arbitrário.
Quando estudamos as velhas mitologias é fácil nos esquecermos da profunda emoção
e comoção que eles causavam e de seu efeito incrivelmente poderoso do qual a
conversão de Paulo é um dos exemplos. Quando eu tinha nove anos, muito antes de
ler Jung, eu já lia Monteiro Lobato e, nessa tenra idade me tornara um
empedernido racionalista, mesmo assim, me deleitava com as histórias dos mitos
gregos e egípcios e, sinceramente intrigado, me perguntava como aquelas pessoas
podiam crer em tais disparates – perdoem o anacronismo de um meninote de nove
anos – com aquela desconcertante multiplicidade de deuses e deusas. Por essa
mesma época, todavia, estava assistindo a TV quando vi uma matéria acerca de uma
peregrinação religiosa feita a Juazeiro no interior do Ceará, com uma imensa
devoção ao Padre Cícero e a diversos outros santos do catolicismo popular e
tive uma súbita realização, o que eu via era exatamente como o antigo culto aos
deuses egípcios, mudavam os nomes, mas a mesma emoção, terror e devoção estavam
lá, indestrutíveis e atemporais. Esquecemos-nos, com frequência, de que os
mitos que foram traduzidos pelos poetas gregos, correspondiam também a rituais,
obrigações, tabus e devoções, que eram uma religião organizada e que comoviam
de uma maneira muito poderosa esses povos. O Cristo, em certo sentido, pode ser
entendido como uma representação heroica e não é preciso dizer o quanto de
nossa cultura foi influenciado por seu simbolismo.
Convém salientar algo que Jung afirma e que vai de
encontro a certas interpretações reducionistas muito comuns,
[...] Nenhum elemento do mito do herói é susceptível de uma só interpretação e – cum grano salis – todas as figuras podem ser trocadas. Certo e seguro é apenas o fato de que o mito existe e possui inegáveis analogias com outros mitos. (Jung, 1999, p.377).
É um equívoco comum considerar a figura do herói nos mitos
como sendo conotativa do complexo do eu, essa perspectiva não é de todo
equivocada, para falar a verdade, mas traz complicações, pois somente cum maximo
grano salis pode-se sustentar tal coisa com base na narrativa do mito. A interpretação
não é, como pensam alguns, colar determinado conceito a uma imagem do mito ou
do sonho, essa atitude é pueril e não científica e, o que é pior, nada
esclarece. Em certo sentido, o herói é um tipo ideal de vida masculina, o mito
do herói é um drama inconsciente que só aparece na projeção – como afiançou
Jung, toda mitologia é a essência da alma projetada – assim o herói aparece
como o ser que possui mais do que a mera natureza humana, ele é caracterizado
como um deus em potencial. Nesse sentido ele é o arquétipo do Si-Mesmo (Selbst), ou, como afirma Franz, a tarefa
do herói é a de reparar a situação em que o mundo se encontra mesmo que seja
algo terrível e perigoso. O herói é o restaurador da situação sadia consciente
e, nesse sentido, ele é uma figura arquetípica que representa o funcionamento
do complexo do eu em harmonia com o Si-mesmo, assim sendo ele parece ser o próprio
Si-mesmo, pois serve de instrumento ao Si-mesmo e, dessa forma ele é também o
Si-mesmo. Ele possui esse duplo caráter. Ainda segundo Jung, o herói é o ator
da transformação de Deus no homem (como exposto acima) e corresponde ao que ele
denomina de personalidade mana.
Tudo o que é genuinamente simbólico é ambivalente, o equívoco
que mencionei acima, de identificar o eu ao herói (de maneira exclusiva e
teimosa), possui uma explicação em termos psicológicos, pois essa imagem, em
virtude de todas essas características, exerce um enorme fascínio e o eu
facilmente cede à tentação de se identificar com o herói, o que acarreta uma
inflação psíquica. Há que se salientar que toda interpretação psicológica exige
o homem inteiro e que a personalidade do interprete é uma ferramenta
fundamental nesse processo, o que a torna, em certo sentido uma confissão
subjetiva. Nesse sentido, esse equívoco tão comum, de identificar o eu ao herói,
é sintomático dessa perigosa inflação. É importante sublinhar esse aspecto,
pois, de acordo com Jung, uma das principais funções da mitologia sempre foi,
Foi este o significado vivo do mito, o de explicar ao homem desnorteado o que acontecia em seu inconsciente, que não o largava. O mito disse-lhe “isto não é você, isto são os deuses. Você nunca os alcançará, por isso volte-se para a sua vida humana temendo e venerando os deuses. (Jung, 1999, p.300).
Como alguém que vai restaurar a situação sadia
consciente, e ser o ator da transformação de deus no homem, o herói representa
o eu inconsciente do homem, que se
revela empiricamente como a soma e o conteúdo de todos os arquétipos, incluindo
o “pai”, nesse sentido, o herói é o seu próprio pai e gera a si mesmo (como
afirma o Cristo “eu e o pai somos um”). A ativação das imagens da fantasia mítica,
em geral, ocorre em virtude de um processo denominado de introversão da libido,
o que nos confronta com outro paradoxo, justamente o que separou Freud de Jung,
pois este afirma que o inconsciente não sabe apenas desejar, mas também
cancelar os seus desejos. O herói representa justamente um esforço na luta
contra o inconsciente, da assimilação do eu pela imagem materna, o herói em sua
jornada vence os pais, isto é, a fixação em ligações infantis, justamente a
relação mais profunda é com a mãe (que se afigura terrível e devoradora), ao
vencê-la ele pode renascer sob uma nova forma. Na ligação com sua origem
materna se encontra toda a força que o torna extraordinário, esse poder ele
liberta das amarras do inconsciente por sua coragem. A peleja contra as forças
paralisantes do inconsciente é que dá forças ao homem, é essa a fonte de toda a
criação, e, para tanto é preciso coragem heroica para arrancar das garras do
dragão a preciosidade dificilmente alcançável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário