Avaliar
o que ficou ou se perdeu para o PT do Ceará depois dos oito anos de governo Cid
Gomes é, por certo, caminhar em um campo minado. Assim como uma parte do PT se
uniu aos Ferreira Gomes e viveram por esses oito anos a sombra de sua influência
– sempre crescente – uma parte não desprezível do partido considerou a aliança
meramente tática e, não demorou muito para se opor ao estranho casamento que
rendeu a Cid um quinhão de poder em nosso estado que nem mesmo Tasso Jeireissate,
no auge de sua carreira política, jamais sonhou em amealhar. Existem diversas
maneiras de se encarar essa relação, mas o foco da minha reflexão é o saldo
para o PT, positivo e/ou negativo da conturbada aliança.
Para
alguns pode parecer incrível, mas de um certo ponto de vista, existiu um saldo
positivo para o PT da aliança firmada com Cid. A princípio, o partido conseguiu
um vice-governador – cargo nunca antes ocupado por um petista no estado – na figura
discreta de Francisco Pinheiro. Afiançado por Luizianne Lins, então prefeita da
capital, ele foi alçado a essa posição, mas não tardou a se afastar de sua
madrinha política e a alinhar-se com o governador. A vice-governadoria foi um
cargo relativamente inócuo para o PT e que não mexeu profundamente com a
estrutura de poder interna no partido – como poderia – Pinheiro esteve sempre às
voltas com lutas intestinas em sua corrente, que foi se fragmentando até
desaparecer. Ele trouxe para o estado uma nova corrente, que possui um destino
ainda incerto, visto o fracasso do ex-vice de conseguir se reeleger deputado
estadual.
Ainda
na aliança com Cid, o PT também conseguiu duas vitórias históricas, elegeu seu
primeiro senador e derrotou pela primeira vez nas urnas o então imbatível Tasso
Jereissate. O atual senador Pimentel já havia sido o primeiro deputado federal
eleito pelo PT do Ceará e foi o primeiro senador da república. Como senador ele
vem tendo uma atuação destacada e em sintonia com o poder executivo e manteve –
como ainda mantém – uma relação ambígua com o clã dos Ferreiras Gomes. Pimentel
é um dos grandes quadros do partido, com um currículo impecável e sem as acusações
que, infelizmente, a mídia tornou tão comum se abaterem sobre os quadros públicos
do partido.
Ainda
como saldo positivo, alguns diriam que a o maior deles, Camilo Santana foi
eleito governador do estado. Camilo, apesar de ser um membro do PT há quase 13
anos, teve sua candidatura bancada politicamente por Cid, sob os aupícios do
partido, que lhe deu carta branca para indicar qualquer nome. Em uma jogada
muito inteligente, que visava anular a oposição interna no partido ao nome que
ele escolhesse, ele indicou Camilo. Essa indicação também lhe livrou da incômoda
sombra da candidatura ao senado do deputado federal Nobre Guimarães, infame em
virtude episódio dos dólares na cueca – diga-se de passagem, ele foi inocentado
de todas as acusações referentes a esse episódio, mas o estrago em sua imagem já
estava feito. Em uma campanha difícil, contra um aliado de longa data, Eunício
Oliveira, Camilo venceu e tornou-se o primeiro governado petista do estado, ironicamente, graças a influência de Cid Gomes.
Em
termos eleitorais, o maior revés do partido foi a derrota de Elmano de Freitas
na eleição para a prefeitura de Fortaleza. Luiziane Lins vinha sendo
incansavelmente fustigada pela imprensa local, que não lhe perdoava nem o mais
insignificante dos desvios, além de ser constantemente atacada na assembleia legislativa
por parlamentares ligados a coalizão que sustentava o governo Cid e sem muitas
vozes para defendê-la, mesmo com relação aos parlamentares petistas. No segundo
turno Elmano encontrou-se completamente isolado, e nem mesmo a presença de Lula
foi capaz de reverter à situação. Em meio a graves acusações de compras de voto
e fraude eleitoral Roberto Cláudio foi eleito sob os auspícios de Cid Gomes,
apeando o grupo de Luizianne da prefeitura, sob uma onda de comoção popular de
um sentimento de anti-petismo, e uma antipatia das classes altas e médias a
figura da prefeita, alimentada pela incansável campanha midiática a que já me
referi. Com isso, a oposição a Cid dentro do PT perdeu força e, muitos dos que
ainda estavam em cima do muro dentro do partido, ou que flertavam com a posição
do grupo de Luizianne, se apressaram a descer do muro e a cerrar fileiras com
Cid. Houve, ainda, um efeito colateral, a gestão de Roberto Cláudio – que prometeu
mundos e fundos à população – vem se mostrando desastrosa, e ele tem governado,
abertamente, para aqueles que financiaram a sua campanha.
Ainda
em termos eleitorais, o PT amargou uma pesada derrota, perdendo boa parte dos
seus deputados estaduais. Apenas dois petistas se elegeram, dentre eles Elmano
de Freitas. Mesmo a vitória de Elmano tem um sabor agridoce, pois se esperava
uma votação bem mais expressiva, especialmente depois de sua campanha a
prefeito, e não foi isso o que se viu. Nomes como Arthur Bruno, que já tinha
sete mandatos legislativos consecutivos, foram batidos nas urnas e o partido de
Cid, elegeu um número enorme de deputados, em uma demonstração inconteste de
seus músculos eleitorais. Para piorar a situação, Tasso deu a volta por cima e
bateu Mauro Filho nas urnas, e foi reconduzido ao senado da república. Luizianne
Lins foi eleita deputada federal nesse mesmo pleito, e, a despeito de ser seu
primeiro mandato na câmara federal, estará à vontade no legislativo, pois, por
mais que hoje seja mais conhecida como prefeita, ela teve uma longa e elogiada
carreira no legislativo municipal e estadual. Apesar de sua vitória, seu grupo
amargou a derrota de Eudes Xavier, fragorosamente derrotado depois de dois
mandatos como deputado federal, e a saída de Antônio Carlos da assembleia legislativa
estadual.
Mesmo
longe do governo do estado Cid mantém intacto o seu poder e influência, e
foi indicado para o ministério da educação – em meio a diversas indicações
controversas – além de manter no governo de Camilo diversos dos seus nomes de
confiança, lado a lado com quadros tradicionais do PT. Em meio a todas essas
reviravoltas, ainda teremos uma situação das mais interessantes quando se
avizinharem as eleições municipais, esse será um dos primeiros testes da
habilidade política e independência de Camilo Santana e, por certo, será uma
queda de braço com a deputada federal Luizianne Lins.
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