terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O PT depois do governo Cid Gomes

Avaliar o que ficou ou se perdeu para o PT do Ceará depois dos oito anos de governo Cid Gomes é, por certo, caminhar em um campo minado. Assim como uma parte do PT se uniu aos Ferreira Gomes e viveram por esses oito anos a sombra de sua influência – sempre crescente – uma parte não desprezível do partido considerou a aliança meramente tática e, não demorou muito para se opor ao estranho casamento que rendeu a Cid um quinhão de poder em nosso estado que nem mesmo Tasso Jeireissate, no auge de sua carreira política, jamais sonhou em amealhar. Existem diversas maneiras de se encarar essa relação, mas o foco da minha reflexão é o saldo para o PT, positivo e/ou negativo da conturbada aliança.



Para alguns pode parecer incrível, mas de um certo ponto de vista, existiu um saldo positivo para o PT da aliança firmada com Cid. A princípio, o partido conseguiu um vice-governador – cargo nunca antes ocupado por um petista no estado – na figura discreta de Francisco Pinheiro. Afiançado por Luizianne Lins, então prefeita da capital, ele foi alçado a essa posição, mas não tardou a se afastar de sua madrinha política e a alinhar-se com o governador. A vice-governadoria foi um cargo relativamente inócuo para o PT e que não mexeu profundamente com a estrutura de poder interna no partido – como poderia – Pinheiro esteve sempre às voltas com lutas intestinas em sua corrente, que foi se fragmentando até desaparecer. Ele trouxe para o estado uma nova corrente, que possui um destino ainda incerto, visto o fracasso do ex-vice de conseguir se reeleger deputado estadual.



Ainda na aliança com Cid, o PT também conseguiu duas vitórias históricas, elegeu seu primeiro senador e derrotou pela primeira vez nas urnas o então imbatível Tasso Jereissate. O atual senador Pimentel já havia sido o primeiro deputado federal eleito pelo PT do Ceará e foi o primeiro senador da república. Como senador ele vem tendo uma atuação destacada e em sintonia com o poder executivo e manteve – como ainda mantém – uma relação ambígua com o clã dos Ferreiras Gomes. Pimentel é um dos grandes quadros do partido, com um currículo impecável e sem as acusações que, infelizmente, a mídia tornou tão comum se abaterem sobre os quadros públicos do partido.



Ainda como saldo positivo, alguns diriam que a o maior deles, Camilo Santana foi eleito governador do estado. Camilo, apesar de ser um membro do PT há quase 13 anos, teve sua candidatura bancada politicamente por Cid, sob os aupícios do partido, que lhe deu carta branca para indicar qualquer nome. Em uma jogada muito inteligente, que visava anular a oposição interna no partido ao nome que ele escolhesse, ele indicou Camilo. Essa indicação também lhe livrou da incômoda sombra da candidatura ao senado do deputado federal Nobre Guimarães, infame em virtude episódio dos dólares na cueca – diga-se de passagem, ele foi inocentado de todas as acusações referentes a esse episódio, mas o estrago em sua imagem já estava feito. Em uma campanha difícil, contra um aliado de longa data, Eunício Oliveira, Camilo venceu e tornou-se o primeiro governado petista do estado, ironicamente, graças a influência de Cid Gomes.



Em termos eleitorais, o maior revés do partido foi a derrota de Elmano de Freitas na eleição para a prefeitura de Fortaleza. Luiziane Lins vinha sendo incansavelmente fustigada pela imprensa local, que não lhe perdoava nem o mais insignificante dos desvios, além de ser constantemente atacada na assembleia legislativa por parlamentares ligados a coalizão que sustentava o governo Cid e sem muitas vozes para defendê-la, mesmo com relação aos parlamentares petistas. No segundo turno Elmano encontrou-se completamente isolado, e nem mesmo a presença de Lula foi capaz de reverter à situação. Em meio a graves acusações de compras de voto e fraude eleitoral Roberto Cláudio foi eleito sob os auspícios de Cid Gomes, apeando o grupo de Luizianne da prefeitura, sob uma onda de comoção popular de um sentimento de anti-petismo, e uma antipatia das classes altas e médias a figura da prefeita, alimentada pela incansável campanha midiática a que já me referi. Com isso, a oposição a Cid dentro do PT perdeu força e, muitos dos que ainda estavam em cima do muro dentro do partido, ou que flertavam com a posição do grupo de Luizianne, se apressaram a descer do muro e a cerrar fileiras com Cid. Houve, ainda, um efeito colateral, a gestão de Roberto Cláudio – que prometeu mundos e fundos à população – vem se mostrando desastrosa, e ele tem governado, abertamente, para aqueles que financiaram a sua campanha.



Ainda em termos eleitorais, o PT amargou uma pesada derrota, perdendo boa parte dos seus deputados estaduais. Apenas dois petistas se elegeram, dentre eles Elmano de Freitas. Mesmo a vitória de Elmano tem um sabor agridoce, pois se esperava uma votação bem mais expressiva, especialmente depois de sua campanha a prefeito, e não foi isso o que se viu. Nomes como Arthur Bruno, que já tinha sete mandatos legislativos consecutivos, foram batidos nas urnas e o partido de Cid, elegeu um número enorme de deputados, em uma demonstração inconteste de seus músculos eleitorais. Para piorar a situação, Tasso deu a volta por cima e bateu Mauro Filho nas urnas, e foi reconduzido ao senado da república. Luizianne Lins foi eleita deputada federal nesse mesmo pleito, e, a despeito de ser seu primeiro mandato na câmara federal, estará à vontade no legislativo, pois, por mais que hoje seja mais conhecida como prefeita, ela teve uma longa e elogiada carreira no legislativo municipal e estadual. Apesar de sua vitória, seu grupo amargou a derrota de Eudes Xavier, fragorosamente derrotado depois de dois mandatos como deputado federal, e a saída de Antônio Carlos da assembleia legislativa estadual.



Mesmo longe do governo do estado Cid mantém intacto o seu poder e influência, e foi indicado para o ministério da educação – em meio a diversas indicações controversas – além de manter no governo de Camilo diversos dos seus nomes de confiança, lado a lado com quadros tradicionais do PT. Em meio a todas essas reviravoltas, ainda teremos uma situação das mais interessantes quando se avizinharem as eleições municipais, esse será um dos primeiros testes da habilidade política e independência de Camilo Santana e, por certo, será uma queda de braço com a deputada federal Luizianne Lins.

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