Tenho
andado pensando sobre coisas como “o sentido da vida”, como não sou, e nem
pretendo ser, filósofo, eu costumo me restringir a pensar no sentido da minha
vida. Isso me vem me tomando um certo tempo, ao ponto de eu acreditar ter
chegado a uma boa conclusão de qual seja o sentido da minha vida. Parece
pretensioso, mas eu realmente venho pensando nisso há um bom tempo, um bom
tempo mesmo, essa preocupação filosófica já não é algo tão central em minhas
divagações e pensamentos, mas sim as decorrências dela.
É
muito difícil lidar com as pessoas, especialmente com as que jamais pensaram
sobre isso e que, ao que me parece, preferem não pensar sobre o sentido de suas
próprias vidas. É ainda mais difícil lidar com aquelas que parecem ter aceitado
que o sentido de suas existências é simplesmente algo que lhes foi imposto de
fora, e que perseguem ideais e objetivos que não são seus, sejam eles quais
forem, mas normalmente trata-se de dinheiro. Não me entendam mal, não acho que
dinheiro seja algo ruim, nós dois juntos faríamos uma boa dupla, mas não creio
que esse seja o sentido da minha vida, e muita gente corre desesperadamente
atrás de dinheiro e ao ganhá-lo costuma perder a si mesmas. É realmente difícil
convencer as pessoas de que você não é louco, excêntrico, ou simplesmente um
rebelde (principalmente quando se sabe que, no fundo, você é mesmo um pouco
dessas coisas), simplesmente por que não está o tempo todo correndo atrás
daquilo que as pessoas acham que você deveria estar correndo atrás.
Há
um problema a mais nisso tudo, um grande problema na verdade. A vida tem meios
insidiosos de te fazer precisar de coisas e entre essas coisas está o dinheiro,
e sem ele não se pode fazer um monte de coisas legais, ou mesmo, um monte de
coisas bem básicas, como comer, por exemplo. Há um momento da sua vida, um
momento bem difícil, em que você precisa encarar um monte de gente nos olhos,
um monte de gente que alcançou algumas das coisas que lhes foram impostas, mas
que já precisam correr atrás de novas coisas que todo mundo acha que eles
precisam, e, sem ter conseguido nada disso, sustentar que você não é um maluco
fracassado. Isso por que do mesmo modo em que algo em você, algo muito
importante, lhe diz que você está certo, que as coisas irrelevantes aos olhos
dos demais com o que você está se preocupando, e que não passam de
excentricidades para as pessoas normais, são o coração da sua alma, o sentido
dessa sua curta vidinha nessa terra estranha e maravilhosa, há uma outra voz.
Ah! A outra voz! A maioria escuta sempre essa outra voz, até por que não
consegue mais escutar a primeira, e ela vem da boca dos seus pais, do seu
chefe, do seu padre, do seu vizinho, do seu médico, do seu porteiro, do jornal,
do professor, do seu síndico... A lista é interminável, mas o pior é que eu escuto
com clareza essa outra voz vindo do mesmo lugar de onde vem a primeira: da
minha alma.
Isso
complica muito as coisas, o simples fato de ouvir essa voz que me diz que eu
devo fazer o que eu devo fazer para ser eu mesmo e não o que os outros fazem,
já me torna alguém antiético, visto a ética ser algo social. E esse é o lado
bom, a voz do anjinho. Mas há uma voz demoníaca que sussurra um “e se?”, essa
voz é assustadora. Na verdade as duas são, mas chega um momento em que você
simplesmente cansa de não ouvir a primeira, que você percebe todos os becos sem
saída que ouvir a todos, menos ao seu espírito, lhe leva. E você se resigna em
ser você mesmo, esse sujeito antiético, que não compreende ou segue minimamente
o que é decente, correto e apropriado, que se veste de um jeito estranho e não
faz o que todos estão fazendo. Minha avó tem uma palavra para isso “desusado”,
é um arcaísmo, que só a minha avó usa, mas ela está certa, eu sou “desusado dos
outros”. Eu acho graça da minha avó falar isso, mas, ultimamente, ao encarar os
outros, e encarar seus julgamentos, mesmo que vazios, eu tenho visto espelhado
em seus olhos vítreos o meu demônio que diz “e se?”. E se a minha avó estiver
certa? E se eu for simplesmente um maluco, rebelde, excêntrico? E se todas
essas coisas que eu perco tanto tempo escrevendo não fizerem sentido algum? E
se na minha lápide estiver escrito apenas “aqui jaz mais um excêntrico”? E
se...
Essa
voz tem se tornado mais insistente, não tanto quanto a que me diz que eu devo
ser eu mesmo, e me explica como é que esse “eu” deve ser, essa eu escuto o
tempo todo, mas mesmo assim, esse diabinho tem começado a falar alto e de
maneira incômoda, para não dizer maquiavélica. Nossos demônios sempre são
perspicazes, acho que é uma das exigências do cargo, também são atentos e
minuciosos e muito dedicados, eles não deixam passar nem uma chance de rir das
suas dúvidas e ecoar os seus fracassos. Eu penso que talvez, e o talvez aqui já
é fruto da ação insidiosa desse meu diabrete, ele esteja preocupado com o emprego
dele. Ultimamente eu tenho me dedicado a tentar fazer o que eu devo fazer. Isso
é difícil, por que implica não fazer apenas o que a sua consciência manda você
fazer, isso se torna corriqueiro depois de um tempo, implica fazer isso e
encarar as demais pessoas, pior ainda, fazer isso tudo para elas, que nem te
entendem e nem querem te entender. Bom, eu tenho tentando, tem sido duro, e eu
faço tudo errado frequentemente, muito frequentemente, mas acho que a prática e
a persistência podem, por fim, me levar aonde eu devo ir, aquele lugar que eu
só saberei onde fica quando eu finalmente chegar lá. Nesse dia meu diabrete
terá que achar uma nova ocupação, ou talvez, ele simplesmente sorria, me dê um
tapinha nas costas e me diga “é isso cara, meu trabalho finalmente foi
recompensado, tive momentos em que eu duvidei, mas cá estamos nós, somos um
belo trio”.
Bom,
eu continuo caminhando, tropeçando, às vezes caindo, mas caminhando. Talvez os
outros malucos, excêntricos e rebeldes estejam lá, nesse lugar para onde estou
indo, fazendo apostas para ver quando e se eu vou chegar. Se tiver ao menos
outro maluco, excêntrico e rebelde lendo isso aqui, isso talvez seja um sinal,
talvez...
muito obrigado pelos elogios, vou ver sim o seu blog, de cara gostei muito do nome, pode ter certeza de que vou visitar o seu blog, sigamos na labuta de escrever
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