Jung
em seu Tipos Psicológicos asseverou que assim como existia uma teoria sexual das
neuroses se poderia elaborar uma teoria política da neurose – pois seu tempo
era abalado por graves crises políticas. No mesmo livro, ele insinua que da
mesma maneira que propôs tipos gerais de atitude e tipos funcionais, existiam
igualmente tipos sociais – lembrando que um tipo é um modelo geral de atitude, o
conceito de atitude (Einstellung) é uma disposição da psique de agir ou reagir
em certa direção. Ter atitude é o mesmo que direção apriorística para algo
determinado, quer ele seja representado ou não, e consiste sempre na presença
de uma determinada constelação subjetiva que determina o agir nesta ou naquela
direção prefixada. Atitude significa uma expectativa – e a expectativa sempre
atua selecionando ou direcionando.
Voltando
aos tipos sociais, podemos encontrar algo similar quando, por exemplo, falamos
em liberais, neo-liberais e comunistas ou coxinhas e petralhas. Por detrás
desses tipos sociais, é possível perceber os mesmo tipos gerais de atitude
Introversão/extroversão, mas voltarei a isso posteriormente. Por certo vivemos
em “tempos interessantes”, como na velha maldição chinesa, e por mais que seja
uma era de angústias e incertezas há muito a ser feito e pensado. O que me faz recordar
das palavras de outro comunista (como eu) Zizek que diante de tempos tão peculiares
contesta a ideia de Marx em A Miséria da Filosofia de que
precisamos agir e não pensar. Para Zizek estamos tão perdidos e desnorteados,
que precisamos, agora mais do que nunca, pensar. E o que vou propor aqui, é uma
reflexão psicológica sobre um evento micro, mas que eu considero exemplar para
compreender essas atitudes opostas que se entrechocam e que nos ajudará – assim
espero – a compreender um pouco melhor o espírito de nosso tempo.
Antes
de começar propriamente, desculpem-me o excesso de prolegômenos, devo fazer
algumas considerações que nos pouparão tempo e evitarão debates ociosos. Se eu
fosse filósofo, com certeza seria um pragmático nos moldes de James – perdoem a
minha pretensão – e é invocando o espírito da obra de James que teço esses
comentários iniciais. A primeira coisa se ter em mente, é a advertência feita
por Jung de que a psicologia “não trata das coisas como elas realmente são, mas
apenas da maneira como são imaginadas”. Digo isso, pois espero que lembrem de
que sou historiador e essa admoestação cala fundo em meu coração de
historiador, pois a história é imaginação sobre aquilo que foi imaginado. Se
alguém acreditar que ao tecer considerações históricas sobre Che estaríamos
falando do homem real Che, eu teria que lhe repreender por sua ingenuidade. Da
mesma maneira, ao tratarmos psicologicamente de Guevara, tratamos da maneira
como ele é imaginado. Estando isso claro, restam duas coisas a serem ditas a
guisa de exortação: o único critério de validez de uma hipótese em psicologia
analítica é o seu valor heurístico, logo, se ao final da minha fala nossa
compreensão não se ampliar, eu só terei usado a Psicologia de Jung como racionalismo
aplicado, o que é algo que pode ser interessante, mas ocioso. Outra coisa,
diante de nossa polarização, é importante a advertência de Marc Bloc, de que o
historiador não é um juiz dos mortos passando vãos julgamentos, e que no afã de
julgar perdemos a oportunidade de compreender – alguém deveria ter dito o mesmo
aos psicólogos. Obrigado pela paciência, e agora passemos ao caso.
Os
dois personagens desse bizarro debate público que me chamou a atenção nas redes
sociais são Kim Katagiri e Jean Willys. O deputado do Psol tinha publicado em
suas redes sociais uma foto, vestido como Che Guevara – de um ensaio na revista
Rolling Stones. Katagiri aproveitou para alfinetar Willys e toda a esquerda
ao apontar uma contradição. O deputado é o único gay assumido em todo o
congresso nacional e a defesa dos direitos dos LGBT é uma de suas principais
bandeiras. O ataque do “menino prodígio” da direita liberal foi acusar Che de
homofóbico. Isso foi o estopim do debate entre os dois. O deputado não é
ingênuo quanto às contradições da imagem de Che e afirmou depois em entrevista:
“Escolhi
o Che pela intenção do jornalista de abordar meu mandato como uma cruzada, uma
revolução, e também por ser um ícone pop que foi monopolizado por uma
mentalidade machista. A própria revolução cubana sacrificou os homossexuais,
mandou os homossexuais para o paredão, considerava-os antirrevolucionários - a
revolução promoveu isso. Da mesma maneira que o Luiz Mott chamou a atenção para
a sexualidade de Zumbi dos Palmares provocando a ira do movimento negro, eu
quis provocar a esquerda brasileira posando de Che Guevara. Sem falar que o Che
é uma figura pop mundial, fácil de identificar. O Harvey Milk, não. Ele é uma
figura muito nossa, da comunidade LGBT.
Pareceu-me
tão óbvio que ali o objetivo era o de provocar as “esquerdas” brasileiras no
momento que a gente está para instalar a comissão da verdade e recuperar aquele
passado da ditadura militar. O Che teve um papel fundamental no fortalecimento
das esquerdas na clandestinidade. Por que não recuperar também a atuação dos
gays naquele período, que está uma coisa silenciada? Como os aparelhos de
resistência se comportaram em relação aos homossexuais? Será que eles herdaram
a postura da revolução cubana de achar que homossexuais eram
antirrevolucionários, como aconteceu, por exemplo, na Argentina, onde os
aparelhos de resistência não queriam filiar homossexuais porque achavam que
eles cediam facilmente à tortura.”
Katagiri
aproveitou a contradição histórica de Che para desqualificar Jean, e toda a
esquerda demonizando Guevara. Quero lembrar aqui de uma passagem em que Campbell
falava das mitologias vivas usou o exemplo de Lincon, presidente americano
durante a guerra de secessão, pois ele era um ótimo piadista e muito bem
humorado. Depois de sua morte, toda boa piada era imediatamente associada a
ele, porque essa característica marcante de sua personalidade funcionava como
uma espécie de imã para agregar a sua imagem coisas relacionadas ao humor e a
ironia, ampliando em muito aquilo que ele foi em vida. Tratamos aqui da imagem
de Che, em que, por certo, importa o homem que ele foi e sua vida, mas a essa
vida são atraídos elementos fantásticos que ampliam aquilo que ele foi e
reverberam socialmente. Che é um ícone, literalmente falando, seu rosto está
estampado em camisetas pelo mundo a fora, ele representa os ideias da
revolução, e, para utilizar a definição de Zizek de comunismo: a ideia
universal de uma liberdade humana radical. Mas para o quê aponta a crítica de
Kataguiri? Para seu exato oposto, Guevara era um opressor, que usou da força e
da coerção para excluir, matar e humilhar pessoas como Jean Willys, as mesmas
que ele defende. Gostaria de lembrar novamente aos senhores, que estamos
falando de uma imagem anímica, e que, como ensina Jung, tudo genuinamente
anímico é como o rosto do deus Janus que olha simultaneamente para a direita e
a esquerda, ou seja, é ambivalente.
Kataguiri
se julga, ele mesmo, um defensor da liberdade. Ele é um liberal, como um
conhecido meu, certa feita, disse sobre si mesmo e seus pares liberais “são
amigos da razão e da liberdade”. O curioso é que, a se levar a sério a posição
dos dois lados dessa contenda, não temos uma luta do bem contra o mal, mas uma
luta do “bem VS bem”. Claramente, Jean acredita em seus ideais e se vê como
alguém em uma cruzada com uma causa justa. Talvez o mesmo possa ser dito de
Kataguiri – para a finalidade de nosso estudo eu vou partir dessa hipótese, de
que ele também realmente crê no que defende. Ao menos no discurso, ambos
defendem a liberdade – mas liberdade aqui significa coisas bem diversas, não
sejamos ingênuos.
Percebam
que a cada um dos dois corresponde uma atitude diversa em relação a Che,
lembrem-se de que a atitude consiste sempre na presença de uma determinada
constelação subjetiva que determina o agir nesta ou naquela direção prefixada,
que representa uma expectativa que age selecionando. Kataguiri, como um bom
anarco-capitalista, considera tudo o que a esquerda significa como algo ruim,
errado a priori e negativo, sua atitude o leva a selecionar da imagem de Che
justamente seu lado de homofobia e preconceito. O oposto pode ser dito de Jean,
que percebe com clareza os aspectos negativos de Che, apesar dele se fixar em
determinados aspectos, positivos – pois Guevara lutou contra a opressão, ele
não ignora ou reprime completamente o outro lado da imagem de seu herói. A
atitude ao selecionar também exclui uma parte do fenômeno e a consciência
consegue abarcar apenas uma fração dele, tudo o mais se torna inconsciente.
Quem quiser perceber como isso funciona, basta procurar na internet algum vídeo
intitulado “fulano destrói sicrano”. Em ambas as atitudes, ou ao menos em seu
aspecto de discurso, há elementos que poderiam ser acrescentados tanto a Kim
quanto a Jean, mas aparentemente não o são. Perceba que ambos são vozes
públicas representativas de dois grandes grupos opostos, isso é crucial.
Há
uma clara oposição entre os dois atores desse drama peculiar, tanto na maneira
como encaram o mundo e a si mesmos, quanto na ótica particular, nas lentes com
as quais enxergam um ao outro. Determinados fatos psicológicos não são
simplesmente um problema individual, mas ao contrário representam um grave
problema para todos. Vejam que esse debate foi público e Jean, que já é
corriqueiramente difamado, foi atacado de todos os lados por seus opositores
que se utilizaram do argumento de Kataguiri. O mais curioso disso tudo, ao
menos a mim me parece, é que em nada ajudou a sanar a miopia de ambos os lados
– por favor, tenham em mente que eu possuo um viés, sou de esquerda e sempre
tenho a impressão de que Kataguiri é mais estúpido do que Jean.
Jean
é o diabo de Kataguiri, seu inimigo de estimação. A direita raivosa vê nele
alguém que não luta por igualdade, mas que advoga por privilégios para os gays,
alguém que deseja ardentemente acabar com os valores tradicionais e, por mais
ridículo que pareça, há pessoas que realmente acreditam – especialmente pessoas
ligadas a cultos neo-pentecostais – que Jean Willys é a ponta de lança de um
movimento que pretende instalar uma “ditadura gayzista”. Jean enxerga no
Liberal Kataguiri – o ideário liberal defende o livre mercado, a diminuição do
estado, e as liberdades individuais e o individualismo burguês, bem como a
democracia burguesa – como um proto-fascista de discurso violento e autoritário
que faz tabula rasa da homofobia e do racismo – que o jovem Kim entende como
vitimismo – e que defende que o feminismo é algo inútil, violento, que oprime
os homens, vítimas do cruel feminismo.
O
debate que se engendra entre os dois e seus respectivos seguidores é quase
sempre raivoso e afetado, o que em geral significa a manifestação de uma
inferioridade psíquica, e esse dado para nós é muito significativo. Parece
haver nesse debate a manifestação de algo relativamente autônomo e de natureza
emocional. Essa característica, da erupção descontrolada dos afetos leva a uma
incapacidade de julgamento moral. Em geral, a manifestação explosiva das
emoções é o sinal quase inequívoco de se ter tocado um desses traços obscuros
de caráter que constitui as inferioridades do indivíduo. Esses traços obscuros
são sempre projetados. No início de seu Reflexos
da Alma, von Franz afiança que a projeção é um problema social
premente, e que os esclarecimentos de nossas projeções ajudaria em muito a
sociedade como um todo. Lembrando que a projeção é um fenômeno inconsciente e
automático, que todo inconsciente é projetado, e ao ser projetado, apenas
encontramos aqueles conteúdo subjetivos no objeto da projeção e acreditamos
piamente que essas qualidades pertencem realmente ao objeto.
A
causa da emoção parece provir de fora e não do próprio indivíduo. Essa percepção
obstinada, que muitas vezes é obvia projeção para um observador externo,
constitui um obstáculo que, via de regra, supera em muito a capacidade moral e
intelectual do sujeito em questão. Como se pode perceber com clareza, a
projeção é um isolamento do sujeito em relação ao mundo exterior, ao invés de
uma relação real o que existe é uma relação ilusória. A percepção desse aspecto
projetivo mostra a irracionalidade desse debate, o que significa que ele é
imune à razão, por estar sob a influência de fatores obscuros emocionais
autônomos inconscientes. Jung afirmou que a razão não é um bem inalienável dos
homens, basta aumentar a temperatura dos afetos para que ela desapareça.
Representa uma tarefa moral, todavia, para os que conseguem manter a
racionalidade, fazer um contraponto a esse estado de coisas.
Assim,
podemos supor, como hipótese de trabalho, que as explosões de emoção que
emergem desse estranho debate, bem como o conteúdo selecionado pelas atitudes
claramente opostas, indica a manifestação projetiva de partes inferiores da
personalidade de ambas as partes. Podemos supor que ocorre aí uma projeção de
sombra, e como Jung escreveu em seu Aion, quando não nos confrontamos com a sombra
em nós mesmos, a realidade se torna um construto subjetivo, porém desconhecido,
tratando-se de um problema social de extrema importância.
Estamos
diante, todavia, de um problema mais grave do que parece a princípio, pois
nossos dois antagonistas são representantes de grupos opostos que ilustram
essas atitudes sociais de cunho político a que Jung aludiu em seu Tipos. A imagem de Che Guevara no debate
político funciona como as palavras do teste de associação pensadas para gerar
respostas emocionais, e por isso, permite que o pano de fundo psíquico inexpresso
neste debate se manifeste de maneira mais flagrante. A sombra é um problema
simultaneamente e de maneira flagrantemente paradoxal individual e coletivo. É
preciso um espectador para se perceber a própria sombra, vivendo sozinho é
praticamente impossível notar a própria sombra. Civilizações e nações possuem
sombras, pois existem atitudes coletivas como as que aludi antes, os liberais
no veem, a nós de esquerda, como iludidos e ingênuos, que acreditam em quimeras
anacrônicas que jamais funcionaram em parte alguma e defensores de uma rebeldia
juvenil, entretanto não é assim que nos vemos. Sobre esse fato, von Franz nos diz:
[..] a sombra coletiva é
particularmente ruim porque cada um apoia o outro em sua cegueira – é somente
nas guerras e nos ódios entre nações que se revela algum aspecto da sombra
coletiva. (2002, p.15).
Além
das qualidades negativas ou incompatíveis que o indivíduo reprime em si mesmo,
ele também leva consigo qualidades negativas do grupo a que pertence e das
quais não tem consciência. Há que nos lembrarmos igualmente da psicologia de
massas, no fundo é justamente disso que trato aqui, pois em pequenos grupos ou
sozinhos certas características nossas se reduzem ou mesmo desaparecem, crescem
repentinamente, porém, quando nos encontramos em grupos maiores. Jung costumava
dizer que cem cabeças brilhantes juntas formavam uma só cabeça de bagre. Como
diferenciar a sombra coletiva da sombra individual? De acordo com von Franz, se
você só se sente ambicioso, por exemplo, quando está em um grupo, trata-se aí
da sombra coletiva. Isso significa que, a pessoa cordada que numa manifestação
pública é tomada de ódio ficando um pouco perturbada e isso acontece apenas
quando está nessa situação, foi dominada mais pela sombra coletiva do que pela
pessoal – tenho a impressão que o mesmo se dá nas redes sociais. Nosso
noticiário político nos dá sobejos exemplos. Devemos no recordar de que o mal
coletivo é personificado nos sistemas religiosos como demônio ou espíritos das
trevas, não é debalde que a tradição nos ensina que o diabo pode nos possuir,
pois, em termos práticos quando partes de nossa sombra não estão
suficientemente integradas, essa é a porta aberta para a sombra coletiva, para
o diabo (seja ele um demônio capitalista ou comunista).
Temos
que nos lembrar de que uma apercepção ativa só é possível quando temos uma
atitude, dessa maneira a atitude atua de forma selecionadora, nos permitindo
apreender apenas uma parte do fenômeno – isso deveria nos deixar mais humildes.
É por isso que um grupo olha para Che e vê um assassino homofóbico e o outro um
revolucionário heroico. Por detrás dessas atitudes sociais que esbocei,
permanece em ação os tipos gerais de atitude: introverssão/extroverssão. Eu
tenho uma impressão que vou compartilhar com vocês, é menos do que uma
hipótese: a esquerda possui uma atitude coletiva de extroversão e a direita de
introversão. É claro que uma ideia de caráter tão geral é difícil de se
comprovar, mas creio ter um certo valor heurístico, como quando Jung falava do
caráter nacional francês como sentimental e dos alemães como intelectuais.
Vejam, o caso do debate sobre o bolsa família, a esquerda se foca não no
programa em si, ou na sua forma de execução, mas nas pessoas beneficiadas, em
uma atitude empática, em que importam as pessoas. O debate levado a cabo pela
direita é claramente, ao meu ver, abstrativo, a ideia é ruim e se discute os
problemas abstratos do programa e se trata o mais rápido possível de anular os
objetos e removê-los da equação, nesse caso, justamente as pessoas. Percebam o
caráter abstrativo dos liberais quando toda a sua discussão pode ser reduzida a
uma ideia revestida de enorme valor afetivo e que, por ela mesma, é capaz de
sanar tudo: o livre mercado. O problema disso tudo, senhoras e senhores, é que
como bem sabemos o que é valor para o introvertido é desvalor para o
extrovertido e vice-versa.
Assim,
de um lado Che não passa de um representante da ideia nefasta do comunismo que
se opõe ao livre mercado, logo é um vilão capaz de atrocidades, ele deve ser
rapidamente destruído e tirado da equação, numa atitude abstrativa. De outro
lado, ele é cultuado, sua vida é vista como corajosa e exemplar, suas aventuras
e seu desejo de ajudar as pessoas são fonte de inspiração e estão em primeiro
plano e não propriamente os ideais que ele defendia.
Em
termos práticos o que nos ensina toda essa celeuma? Primeiro que o risco de
contágio psíquico é diretamente proporcional ao nosso grau de inconsciência.
Segundo que as paixões coletivas e políticas que agitam nossa era de incertezas
e tristezas possuem um pano de fundo irracional que é tanto mais poderoso
quanto mais ele for negado, e que, como certa feita asseverou Jung “se é aquilo
que se combate”. Quando vemos apenas projetados nossas inferioridades elas agem
sobre nós de maneira compulsiva, os homens e mulheres de esquerda agem de
maneira autoritária e moralista enquanto apontam o dedo em riste para acusar
seus oponentes. O homofóbico e machista Kataguiri aponta o dedo para acusar Che
de ser homofóbico e machista. Quem busca opressores em tudo, em geral, possui
um tirano vivendo em seu peito. De maneira humilde, esse debate psicológico nos
leva a reconhecer que temos apenas uma parte da verdade, a parte que nos cabe e
não toda ela. Recordando da filosofia de James, o racionalista acredita que
existe uma verdade única, e que o universo é um enigma cuja resposta é essa
verdade imutável: deus, a energia, o mercado. A postura proposta por James
propõe a existência de verdades no plural, que ele chamava de verdades
operacionais, que servem para gerar mais trabalho, que funcionam como atalhos
que favorecem que nos movamos de um fato ao outro com maior desenvoltura. O
racionalista gosta de ideias e se afasta sempre que pode dos fatos, o
pragmático só se sente a vontade quando próximo dos fatos.
Determinadas
verdades são estéreis e esterelizantes, pois não nos dizem nada e nos fazem
parar de pensar, nos transmitem apenas a ilusão de conhecimento. Che foi um
homem complexo, repleto de qualidades e defeitos. Como todo ser humano, foi
alguém contraditório e incoerente. Se aferrar a uma verdade apenas sobre ele e
seu valor é algo tolo. Sua imagem persiste e ainda causa polêmica e admiração,
pois o homem Che foi capturado pelas eternas dominantes que, em certa medida,
determinam o comportamento humano e ao olharmos para sua figura icônica, sem o
saber miramos nas profundezas de nossa própria alma. Obrigado.
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