terça-feira, 3 de julho de 2012

Sobre a Secretaria de Cultura no segundo Governo de Cid Ferreira Gomes


A cultura nunca foi um tema de grande relevância nos governos dos Ferreiras Gomes, mas, nesse segundo mandato de Cid, tornou-se um tema irrelevante para o governo. No primeiro mandato de Cid, o secretário Alto Filho foi alvo de críticas, mas sua gestão, vista hoje com o necessário distanciamento, foi coerente, com metas e prioridades claras. Alto privilegiou o livro e a leitura, e trouxe para a secretaria muitas inovações nessa área. Alto enfrentou a falta de dinheiro e o descaso do governador, mas o fez com muito mais brio do que o atual secretário.

A indicação do nome de Pinheiro foi vista com bons olhos pela classe artística a princípio, mas o encanto durou pouco. Pinheiro foi vice-governador no primeiro mandato de Cid, sob os auspícios de Luiziane Lins, mas foi um vice-governador de atuação apagada e discreta e que logo se afastou de Luiziane. Os motivos desse afastamento são vários, mas alguns podem ser elencados como de interesse para a compreensão do que está acontecendo hodiernamente na cultura. Pinheiro não estava disposto a fazer a política do PT ou de Luiziane Lins como vice-governador, não bastasse isso, foi um dos petistas que mais rápida e docilmente aderiu ao projeto cidista. Seu silêncio, timidez e subserviência eram bem vistos por Cid, e mal vistos pelo resto do PT. Pinheiro é um militante histórico, que foi um importante intelectual de esquerda, e que fazia a leitura equivocada de que a aliança entre PT e os Ferreiras Gomes havia trazido o PSB e os Gomes para o campo de centro esquerda, uma quimera como se vê hoje. Pinheiro nunca foi um homem carismático ou um agitador, mas acumulou durante seus anos no PT e como sindicalista e professor um admirável capital moral e intelectual que ele transformou em fumaça com sua atuação nos últimos anos.

Como secretário de cultura, presente de grego que lhe foi dado pelo amigo Cid Gomes pelos seus serviços prestados como vice, ele demonstrou as mesmas qualidades de antes: timidez e subserviência. Sua gestão têm se caracterizado desde o início pela indecisão e a descontinuidade. Pinheiro nunca teve músculos eleitorais, e por mais que sua figura pacata e silenciosa tenha lhe trazido alguma simpatia, nunca lhe trouxe votos. Mesmo na primeira vez em que se elegeu como deputado há dois anos, sua votação foi pífia e contestada de maneira desonesta na justiça. Isso foi o bastante para tirá-lo do comando da secretaria e gerar um clima de incerteza e descaso ainda maior. Ocupado em tentar reaver sua vaga de deputado, na justiça ou por quaisquer meios que lhe fossem possíveis, deixou a Secult de lado. Pinheiro não teve autonomia para escolher seu secretário executivo nem sua adjunta, nem teve o traquejo político ou a diplomacia de trazê-los para o seu lado. Ao contrário, seu grupo político fez questão de hostilizá-los o que gerou um desgoverno sem par na secretaria.

Ao assumir, Pinheiro tentou ser leal ao amigo Alto filho e adotou o discurso da continuidade, apenas para em seguida começar a desfazer todo e qualquer avanço obtido por Alto e a afastar todos os membros de sua equipe. Na gestão de Pinheiro não é possível ver qualquer continuidade com relação a de Alto Filho, e tudo o que ele conseguiu a duras penas foi destruído em pouco tempo. O afastamento da equipe de Alto Filho teve um preço caro, pois técnicos competentes foram afastados e em seu lugar pessoas inexperientes ou francamente incompetentes foram trazidas para a secretaria. Essas pessoas passaram a ocupar cargos técnicos sem o devido conhecimento técnico, por razões de conveniência política, o que gerou um sucateamento técnico da Secult. Tantos e tais são os fatos que a incompetência da equipe de Pinheiro é fato consumado e não opinião ou especulação.

Quando as coisas pareciam estar ao menos tranquilas, Cid em malfadada jogada política para tentar submeter o PT aos seus desmandos ordena que Pinheiro se desincompatibilize da secretaria, no que é prontamente atendido. Antônio Carlos assume o seu lugar apenas para renunciar dias depois e, mais uma vez, vemos a Secult ser lançada a incerteza. A insatisfação dos artistas vem crescendo e suas manifestações têm se tornado mais eloquentes, e com justiça. Pinheiro não é diretamente responsável por todas as mazelas da Secult, Cid tem uma enorme parcela de culpa em virtude de seu centralismo e do descaso com que trata a pasta, mas Pinheiro nesse tempo todo tem aquiescido docilmente a tudo o que Cid ordena, como o fez quando vice.

É tamanho o descontentamento que poucos se recordam das promessas de Cid para a cultura, menos ainda dos planos de Pinheiro. Ele prometia um sistema estadual de arquivos públicos, mas esse projeto jaz no esquecimento, não há dinheiro, não há vontade nem competência para fazer tal coisa. Mais uma vez fora da Secult, talvez em definitivo em virtude de inúmeros fatores, entre eles a profunda insatisfação dos artistas, Pinheiro continua demonstrado falta de tato político, e um afastamento cada vez maior do PT. A saída de Pinheiro e o fim de sua desastrada administração dificilmente irá mudar alguma coisa, talvez minimamente, o funcionamento ordinário da secretaria volte a ser mais tranquilo. Os artistas, creio eu, terão de esperar por um novo governo estadual, uma nova mentalidade e um novo projeto de estado, para ver alguma mudança. Cultura não dá voto, pragmaticamente falando, essa é a verdade nua e crua que orienta os Gomes.

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