A
cultura nunca foi um tema de grande relevância nos governos dos Ferreiras
Gomes, mas, nesse segundo mandato de Cid, tornou-se um tema irrelevante para o
governo. No primeiro mandato de Cid, o secretário Alto Filho foi alvo de críticas,
mas sua gestão, vista hoje com o necessário distanciamento, foi coerente, com
metas e prioridades claras. Alto privilegiou o livro e a leitura, e trouxe para
a secretaria muitas inovações nessa área. Alto enfrentou a falta de dinheiro e
o descaso do governador, mas o fez com muito mais brio do que o atual secretário.
A
indicação do nome de Pinheiro foi vista com bons olhos pela classe artística a
princípio, mas o encanto durou pouco. Pinheiro foi vice-governador no primeiro
mandato de Cid, sob os auspícios de Luiziane Lins, mas foi um vice-governador
de atuação apagada e discreta e que logo se afastou de Luiziane. Os motivos
desse afastamento são vários, mas alguns podem ser elencados como de interesse
para a compreensão do que está acontecendo hodiernamente na cultura. Pinheiro não
estava disposto a fazer a política do PT ou de Luiziane Lins como
vice-governador, não bastasse isso, foi um dos petistas que mais rápida e
docilmente aderiu ao projeto cidista. Seu silêncio, timidez e subserviência
eram bem vistos por Cid, e mal vistos pelo resto do PT. Pinheiro é um militante
histórico, que foi um importante intelectual de esquerda, e que fazia a leitura
equivocada de que a aliança entre PT e os Ferreiras Gomes havia trazido o PSB e
os Gomes para o campo de centro esquerda, uma quimera como se vê hoje. Pinheiro
nunca foi um homem carismático ou um agitador, mas acumulou durante seus anos
no PT e como sindicalista e professor um admirável capital moral e intelectual
que ele transformou em fumaça com sua atuação nos últimos anos.
Como
secretário de cultura, presente de grego que lhe foi dado pelo amigo Cid Gomes pelos
seus serviços prestados como vice, ele demonstrou as mesmas qualidades de
antes: timidez e subserviência. Sua gestão têm se caracterizado desde o início
pela indecisão e a descontinuidade. Pinheiro nunca teve músculos eleitorais, e
por mais que sua figura pacata e silenciosa tenha lhe trazido alguma simpatia,
nunca lhe trouxe votos. Mesmo na primeira vez em que se elegeu como deputado há
dois anos, sua votação foi pífia e contestada de maneira desonesta na justiça. Isso
foi o bastante para tirá-lo do comando da secretaria e gerar um clima de
incerteza e descaso ainda maior. Ocupado em tentar reaver sua vaga de deputado,
na justiça ou por quaisquer meios que lhe fossem possíveis, deixou a Secult de
lado. Pinheiro não teve autonomia para escolher seu secretário executivo nem
sua adjunta, nem teve o traquejo político ou a diplomacia de trazê-los para o
seu lado. Ao contrário, seu grupo político fez questão de hostilizá-los o que
gerou um desgoverno sem par na secretaria.
Ao
assumir, Pinheiro tentou ser leal ao amigo Alto filho e adotou o discurso da
continuidade, apenas para em seguida começar a desfazer todo e qualquer avanço
obtido por Alto e a afastar todos os membros de sua equipe. Na gestão de
Pinheiro não é possível ver qualquer continuidade com relação a de Alto Filho,
e tudo o que ele conseguiu a duras penas foi destruído em pouco tempo. O afastamento
da equipe de Alto Filho teve um preço caro, pois técnicos competentes foram
afastados e em seu lugar pessoas inexperientes ou francamente incompetentes
foram trazidas para a secretaria. Essas pessoas passaram a ocupar cargos técnicos
sem o devido conhecimento técnico, por razões de conveniência política, o que
gerou um sucateamento técnico da Secult. Tantos e tais são os fatos que a
incompetência da equipe de Pinheiro é fato consumado e não opinião ou especulação.
Quando
as coisas pareciam estar ao menos tranquilas, Cid em malfadada jogada política
para tentar submeter o PT aos seus desmandos ordena que Pinheiro se
desincompatibilize da secretaria, no que é prontamente atendido. Antônio Carlos
assume o seu lugar apenas para renunciar dias depois e, mais uma vez, vemos a
Secult ser lançada a incerteza. A insatisfação dos artistas vem crescendo e
suas manifestações têm se tornado mais eloquentes, e com justiça. Pinheiro não é
diretamente responsável por todas as mazelas da Secult, Cid tem uma enorme
parcela de culpa em virtude de seu centralismo e do descaso com que trata a
pasta, mas Pinheiro nesse tempo todo tem aquiescido docilmente a tudo o que Cid
ordena, como o fez quando vice.
É
tamanho o descontentamento que poucos se recordam das promessas de Cid para a
cultura, menos ainda dos planos de Pinheiro. Ele prometia um sistema estadual
de arquivos públicos, mas esse projeto jaz no esquecimento, não há dinheiro, não
há vontade nem competência para fazer tal coisa. Mais uma vez fora da Secult,
talvez em definitivo em virtude de inúmeros fatores, entre eles a profunda
insatisfação dos artistas, Pinheiro continua demonstrado falta de tato político,
e um afastamento cada vez maior do PT. A saída de Pinheiro e o fim de sua
desastrada administração dificilmente irá mudar alguma coisa, talvez minimamente,
o funcionamento ordinário da secretaria volte a ser mais tranquilo. Os
artistas, creio eu, terão de esperar por um novo governo estadual, uma nova
mentalidade e um novo projeto de estado, para ver alguma mudança. Cultura não dá
voto, pragmaticamente falando, essa é a verdade nua e crua que orienta os
Gomes.
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