Ontem pela manhã estive na casa dos meus avós e acabei vendo uma parte do programa da Ana Maria Braga (Mais Você), calhou de ser um momento em que se comentava o brutal assassinato de uma jovem carioca por um psicopata de cinqüenta anos. Uma psiquiatra estava lá para comentar o caso e um repórter mostrava o local do crime e a casa onde o tal assassino vivia. Um detalhe me chamou a atenção, detalhe esse que não foi comentado nem pelo repórter, nem pela apresentadora, tão pouco pela médica.
Acontece que as paredes externas da casa onde vivia o assassino estavam pichadas, seus vizinhos haviam escrito impropérios nas paredes para expressar sua raiva, dor e indignação, lá estavam palavras como “assacino”, “pedófilo”, “viado” e, o que me chamou a atenção “nordestino” e “baiano”. Deixando um pouco de lado a clara homofobia, e deixando de lado a hipocrisia, todos sabemos que na nossa sociedade “viado” é um xingamento dos mais graves e pesados para nossa sensibilidade patriarcal. Nordestino e Baiano estavam lado a lado com o que de mais pejorativo essas pessoas puderam escrever sobre um psicopata, revelando o desvalor, a xenofobia e o preconceito que transpareceu na revolta espontânea.
A raiva causa aquilo que Jung chamou de “abaixamento do nível mental”, um estado em que agimos de maneira irrefletida, e sem as inibições conscientes, certas verdades inconvenientes vêem a tona, como quando alguém está bêbado e fala sem pensar. Nesse caso, vemos com assustadora clareza o valor social que nós “nordestinos” – como se houvesse essa identidade monolítica entre as milhões de pessoas que vivem nas mais variadas cidades e estados do nordeste – temos para essa população. Nordestino é tão ruim quanto pedófilo e “assacino”.
Que esse preconceito existia eu já sabia, eu mesmo já fui vítima dele, mas não que era tão atroz, tão profundo e arraigado e que a nós, nordestinos, igualados e nivelados pelo ódio, fosse reservado lugar ao lado do que de mais vil se pode qualificar alguém. Não bastasse isso, a miopia daqueles que possuem o dever de ofício de informar e esclarecer que em nenhum momento fizeram menção a essas palavras de ódio e xenofobia. Como se a revolta diante de uma morte brutal e sem sentido justificasse tudo. É lamentável que num país tão cheio de diversidade e com uma cultura tão rica, esse tipo de sentimento de ódio e xenofobia ainda prospere.
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