Sou filiado ao PT do Ceará desde os meus dezesseis anos, meu pai é um dos fundadores do PT e uma de suas maiores expressões políticas, e por muito tempo acompanhei discretamente a vida partidária e as eleições. Somente há pouco tempo passei a me envolver mais diretamente com a vida partidária, apesar de nos meus tempos de faculdade sempre ter feito parte do movimento estudantil, tendo participado dos CAs de veterinária e depois história. Pois bem, o PT é dividido em corrente ideológicas chamadas de tendências, a tendência da qual faço parte é chamada de “tendência marxista”, TM para encurtar. Apesar da menção ao marxismo em sua denominação, no último encontro estadual da TM, várias pessoas desconheciam o marxismo e seu idealizador Karl Marx. Devido a esse fato um tanto insólito, resolvi escrever aqui de maneira resumida e didática sobre o Marxismo.
Karl Heinrich Marx, nascido em 5 de Maio de 1818 em Trier, na região do Reno, na Alemanha, foi um judeu filósofo, historiador, cientista político, sociólogo, jornalista e revolucionário. Marx estudou direito na Universidade de Bonn, doutorou-se em 1841 em filosofia na Universidade de Berlim e escreveu diversas obras de relevância em parceria com seu amigo e principal colaborador Friedrich Engls, entre essas obras se destaca O Capital (das Kapital: Kritik der politischen Ökonomie) publicado pela primeira vez na Alemanha em 1867, e editado por Engls, onde explicita suas principais teorias que abrangem economia, sociologia, política, história e filosofia. Suas idéias se tornaram conhecidas como Marxismo ou socialismo científico. A teoria contida no O Capital é uma análise do Capitalismo baseada no modelo de capitalismo industrial inglês do século dezenove, fundamentado em vasta documentação existente na Biblioteca do Museu Britânico, que Marx estudou com grande profundidade.
Em linhas gerais, Marx acreditava que não existia uma essência humana inalterável, e criticava Hegel pela idéia deste de que o espírito seria o fundamento absoluto da natureza, ao contrário a natureza era o fundamento do espírito. As causas materiais, a natureza, é o fundamento do espírito, sendo mais importantes as causas materiais. Devido a isso o trabalho é um conceito central nas idéias marxistas, pois no processo de trabalho o homem e a natureza são alterados. Marx criticava a filosofia de seu tempo, pois julgava ser necessário uma crítica que levasse a uma prática revolucionária e realmente transformadora.
Para Marx a sociedade está dividida entre duas classes: aqueles que detêm os meios de produção, e aqueles que possuem apenas a sua força de trabalho. O motor da história, aquilo que leva as mudanças sociais e econômicas é a luta de classes. Em sua análise do Capitalismo, ele o classifica como um “modo de produção” e analisa as características históricas desse modo de produção tendo por base as causas materiais e econômicas. No capitalismo existem basicamente duas classes: Burguesia e o proletariado. A burguesia é dona dos meios de produção e para se perpetuar no poder explora o proletariado que possui apenas sua força de trabalho. O lucro não é o bastante para perpetuar o poder da burguesia, daí o conceito de mais-valia, a “exploração do homem pelo próprio homem”. A mais valia é a diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador.
Essa exploração é possível pela característica do capitalismo industrial, em que o trabalho é fragmentado numa linha de produção especializada. Nos regimes de trabalho anteriores ao industrialismo o trabalhador tinha ciência do valor de seu trabalho, pois conhecia todo o processo que levava a produção de um bem, uma espada por exemplo. Mas com o advento da especialização da linha de montagem o saber do trabalhador também se fragmenta e ele perde a noção do real valor do seu trabalho. Para Marx o Capitalismo produz seu próprio algoz, pois a classe trabalhadora, o proletariado é uma classe naturalmente revolucionária. Para que os trabalhadores tomem consciência de seu papel histórico revolucionário eles precisam passar pelo que ele chamou de processo de “reificação”, de tomada de consciência de que são vítimas da exploração e que o próprio Capitalismo precisa da exploração e da mais-valia para se perpetuar.
Em conjunto, as idéias político e econômicas de Marx são chamadas de materialismo histórico dialético. Para Marx o fundamento material da existência, o trabalho e as forças produtivas são a estrutura e o fundamento de tudo o mais que existe numa sociedade. O “espírito” a cultura, as artes e tudo o mais é derivado ou condicionado por essa estrutura econômica. As relações sociais só se modificam quando se modificam as forças produtivas. As mudanças nas forças produtivas ao longo da história e a sucessão de modos de produção que ele propõem, se devem ao entrechoque de forças gerado pela luta de classes, sendo esse o motor da história. Para Marx a história da humanidade possui uma direção e uma finalidade, após a superação do Capitalismo viria à ditadura do proletariado e por fim o Comunismo, o “fim da história”, pois teria fim à luta de classes.
Bom, em linhas gerais é isso, todavia a contribuição de Marx para a filosofia, sociologia e economia é vasta e complexa e esse pequeno escrito não é mais do que uma introdução a alguns dos conceitos fundamentais.
Heráclito
ResponderExcluirInteressante sua leitura, tb tive a oportunidade de reler o livro a pouco tempo, o qual troquei novas ideias e comecei a enxergar outros aspectos sobre o marxismo.
Divulga o link onde pode pegar a obra completa
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ma000086.pdf
Gostei muito das suas colocações e nosso papel como disseminadores da TM é fazer com que todos saibam do seu poder enquanto ferramenta de luta.