A Alemanha, antes de guerra que matou criminosamente 6 milhões de
judeus, havia produzido um Heidger, e dezenas de outros filósofos, havia
produzido um Wagner na música e, mesmo assim a barbárie que o povo mais
culto e educado da terra produziu naquele período foi um dos episódios
mais nefastos da história humana. Toda a Europa era antissemita, o
nazismo poderia ter surgido em qualquer parte, estamos sempre a um passo
da barbarie.
Mas o que significa a barbárie? Paradoxalmente
é algo simples, um grupo numeroso de pessoas alimenta o preconceito
afetivo de que determinadas coisas jamais acontecem a eles e seu círculo
mais próximo e nutrem quimeras acerca de supostas qualidades que
possuem e projetam todos os defeitos que realmente possuem, em
abundância, em algum grupo: judeus, negros, bandidos, homossexuais;
quando isso acontece, e é um fenômeno irracional e compulsivo, esse
grupo passa a ser menos humano, na mesma medida em que essas pessoas
passam a se julgar superiores. Assim, o destino desses que são
inferiores, não importa, que morram, ou sumam são escória e não deveriam
pertubar o mundo perfeito dos demais. Esse longo prolegômeno
psicológico, serve para que eu possa falar da chacina horrenda e
monstruosa que aconteceu em um presídio de nossa combalida nação. Uma
vez mais, como de costume, me interessa mais a reação a tragédia.
Circula já a notícia de que um membro do PMDB afirmou que deveriam
acontecer ao menos uma chacina por semana, também tive o desprazer de
ler na minha timeline um amigo argumentar que os que pereceram era
bandidos incorrigíveis e mereceram seu destino funesto. Como sempre, o
homem médio retorna aos preconceito do final do século XIX, ao bandido
nato de Lombroso e a eugenia, que até mesmo o grande Galton chegou a
defender. Qualquer um de nós, podemos comenter crimes, os maiores
horrores, como auschwitz, assim como as mais fabulosas aquisições do
espírito, como a filosofia de Heidger, surgem todas da alma. Heidger era
nazista, e perseguiu seu mentor por ser judeu. Quando defendemos que
essas pessoas mereceram um destino tão horrendo, que deveriam mesmo ser
mortas, estamos, sem o saber, apertando o nó da corda que está em nosso
pescoço. Estamos diante da barbárie, pois a bárbarie não vive no coração
de outrem, mas no nosso. Eu lamento que as lições da história (nesse
momento vemos como Cícero estava equivocado) de nada serviram. Estamos,
meus amigos, parados diante do abismo, mas somos cegos a ele, o problema
é que só podemos nos defender de um perigo do qual tenhamos
consciência... Acordem! antes que seja tarde demais.
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