Meu
romance OBAKEMONO foi publicado no Kindle Self Publishing (KDP) no gênero Dark Fantasy/Fantasia
Sombria (na verdade um sub-gênero de Fantasy/Fantasia), estava com o meu amigo
Filipe Jesuíno colocando o livro online quando decidimos por essa classificação,
não pensamos muito a respeito no momento, mas em vista de inúmeros debates que
já tive a oportunidade de ver online sobre o tema, resolvi pensar a respeito e
pretendo fazê-lo segundo três linhas de raciocínio, a primeira sobre o alcance,
necessidade e limites desse tipo de classificação, o segundo sobre o possível
ou possíveis significados de Dark Fantasy e, por fim, o mais complicado para
mim, analisar se a minha obra pode, de fato, ser considerada Dark Fantasy e,
principalmente, se isso importa.
Uma
classificação, estimado leitor, é um método que consiste em criar tipos, mas, nesse sentido, o que é um tipo? Como escrevi em outro dos meus
textos, os tipos são uma descrição dedutiva de impressões empíricas, ou seja,
registram essas recorrências típicas observadas ao se agrupar os fenômenos. Um tipo
tem a serventia de agrupar fenômenos análogos e afins. Uma vez mais fazendo
referência ao meu outro ensaio, um tipo diz respeito à possibilidade de
classificação em virtude de características similares obervadas na descrição
dos fenômenos que a princípio parecem infinitamente multifacetados, mas que
guardam similaridades entre si. Em certo sentido, significa agrupar
determinados fenômenos, de maneira mais ou menos arbitrária, em virtude de suas
similaridades deixando de lado suas diferenças. Em certo sentido, eles designam
grupos fenomenológicos, em nosso presente caso, literatura. Ao criarmos essas
classificações tornamos a realidade mais palatável, ao invés de uma
multiplicidade infinita, encontramos similaridades e as agrupamos. O método
possui inegáveis vantagens, mas sua principal desvantagem é a tentação, sempre
presente, de substituir a realidade por palavras, e achar que os tipos
(classificações ou rótulos) importam mais do que os fenômenos que eles designam,
todos eles fenômenos individuais e com idiossincrasias que extrapolam o escopo
da tipologia.
A
explicação pode parecer um pouco árida, mas creio que não é ociosa, assim
percebemos que ao criarmos tais classificações ou rótulos, ou tipos, estamos
agrupando fenômenos em virtude de sua similaridade e dando a esses grupos nomes
mais ou menos arbitrários, mas com isso, temos uma maior facilidade ao lidar
com sua multiplicidade.
Nesse
sentido, quais são essas similaridades que fazem com que um determinado fenômeno
– uma obra literária – possa ser agurpada sob essa designação, Dark Fantasy? Aqui
entramos no terreno do “arbitrário” em um grau razoavelmente elevado, daí os
debates acerca do uso ou mau uso do termo. Tentarei não ser cansativo, talvez a
definição mais sucinta seja a de que Dark Fantasy se refira a qualquer obra que
combine elementos de fantasia com horror. Por mais que seja uma definição
elegante, ela não nos leva muito longe, pois nos remete a dois outros “tipos”
ou classificações: fantasia e horror. Mas, voltando a vaca fria, o termo também
costuma ser utilizado, mais livremente, para descrever obras em que existe um
clima de medo, uma atmosfera sombria ou horror. Para piorar a situação, os dois
autores que criaram o termos – outra autora também disputa o crédito – se referiam
a materiais bem diferentes entre si, eram eles Charles L. Grant e Karl Edward
Wagner. De acordo com Brian Stableford, o termo define um subgênero que junta
horror a fantasia mais tradicional, entretanto, diferencia o aparecimento de
elementos sobrenaturais nessas histórias, caso surjam no “mundo primário”
trata-se do gênero “fantasia contemporânea”, caso esses mesmo elementos surjam
no “mundo secundário” aí sim estaríamos realmente falando em Dark Fantasy.
Para
piorar a nossa situação, há ainda aqueles que argumentam que o termo se aplica
a histórias de horror em que a humanidade se encontra ameaçada por forças além
de sua compreensão, ou ainda, histórias de horror em que a narrativa é contada
da perspectiva do “monstro”, em contraste com a perspectiva das “vítimas”, mais
comum no horror tradicional. Muitas vezes Sandman de Neil Gaiman é considerado
Dark Fantasy, outras vezes, o termo é utilizado apenas para se referir a histórias
de horror com elementos sobrenaturais. Temos uma bela confusão, não?
Para
a autora do blog Creative Pen, Joanna
Penn, uma obra pode ser classificada como Dark Fantasy quando lida com
quaisquer elementos de fantasia e/ou paranormal de uma maneira que estude o
lado sombrio e assustador da nossa natureza, num sentido psicológico, o
estranho, o sublime e o misterioso. Diferente simplesmente do horror, cujo
objetivo primordial seria causar medo ou susto. É uma definição tão boa quanto
qualquer outra, mas que me agrada em especial.
Agora
vamos a parte complicada para mim, refletir sobre o meu romance. Por certo
OBAKEMONO está recheado de elementos sobrenaturais, especialmente monstros – o título
é bem sugestivo, visto poder ser traduzido do japonês justamente como monstro –
especialmente assombrações do folclore japonês. Além disso, em larga medida,
temos a perspectiva desses seres sobrenaturais – vários dos protagonistas são
seres “sobrenaturais”, todavia não há
exatamente um clima de medo, ou lúgubre e opressivo, tampouco há elementos distópicos.
O clima mais geral do livro é de aventura, com pitadas de suspense, humor e
muita ação, entretanto, a se pensar na definição de Penn, o aspecto psicológico
se faz presente com bastante força, mas de maneira sutil, eu diria. No caso do
meu romance é complicado falar em “mundo primário” e “mundo secundário”, mas
com alguma licença isso se faz presente em momentos mais específicos da
narrativa. Creio eu, no entanto, que a combinação específica de elementos que
fiz nessa obra a façam difícil de enquadrar tanto no gênero horror, quanto
Dark Fantasy, ou mesmo “fantasia contemporânea”, a despeito desses elementos
estarem lá presentes. Nesse caso, eu apelo aos meus leitores e, humildemente
lhes peço a sua opinião e impressões sobre o tema levantado aqui no que
concerne ao meu livro. No mais, creio que interessa mais ao leitor três pontos:
trata-se de um bom livro? É uma história divertida? Ela lhe causou espanto, lhe
moveu de alguma maneira, lhe fez refletir? Se sim, o restante são detalhes...
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