Hoje
é o dia do amigo, devo confessar que não entendo muito da amizado enquanto um
sentimento abstrato, e que não tenho dotes poéticos para escrever algo
emocionante a respeito, todavia o altíssimo me agraciou com bons amigos, e esse
texto é uma justa homenagem a eles. Certa feita, um dos amigos de quem vou
falar aqui, me relatou um diálogo com o renomado e saudoso José Alcides Pinto,
em que esse lhe dizia que se você precisar de mais do que os dedos de uma mão
para contar seus amigos genuínos, provavelmente significa que na verdade não
possui nenhum. Como disse antes, tive a ventura de ter bons amigos e em bom número,
talvez mais do que os dedos de uma mão, mas vou falar aqui de três, e com isso
espero homenagear também os demais.
Começo
pelo começo, por um dos meus mais antigos e queridos amigos, Alex Sandro
Queiroz, por esse nome, creio que somente a mãe dele vai reconhecê-lo, pois é
mais conhecido pela alcunha de Freud. Nos conhecemos na sexta série, o Freud morava
muito longe da nossa escola e sempre se atrasava, e num desses dias choveu. Havia
uns “combogós” como se diz aqui no ceará, e uma parte da sala ficou bem
molhada, atrasado, como de costume, muito alto e desengonçado, ele teve que se
dirigir a uma das cadeiras molhadas e passou a diligentemente enxugá-la antes
de sentar, atrapalhando a aula da professora de matemática, que era uma chata. A
lousa estava cheia de uns problemas de matemática envolvendo colchetes, chaves
e parênteses e ela se dirigiu ao “limpador de carteiras” e mandou que os
resolvesse. Sem pestanejar, ou protestar, ele caminhou até a lousa e, com um
giz na mão colocou a resposta correta em todos, para espanto da professora. Não
me recordo ao certo como ficamos amigos, mas o certo é que nos tornamos amigos e
passamos boa parte do primeiro e segundo graus juntos. Freud sempre foi um
homem de excelentes tiradas e, a despeito de sermos amigos, eu não compartilhava
seu amor por números e me ressentia das aulas de matemáticas. Um dia, estávamos
caminhando em direção à casa dos meus avós, e eu reclamava da matemática e
protestava minha preferência pela física, que me parecia bem mais útil. A resposta
que ele me deu foi tão sagaz que se marcou a ferro em meu espírito “a matemática
é utilizada para tudo, até para erguer esse muro, nem que seja apenas para
contar os tijolos”.
O
segundo amigo que desejo homenagear eu conheci mais ou menos na mesma época em
que travei amizade com o Freud, e ele também estudava na mesma escola, mas era
bem mais novo. Nos conhecemos por meio de amigos comuns, por essa época,
diferente do bom moço que ele se tornou, era um conhecido bad boy da nossa escola, com o nada meritório apelido de “Jesuíno
Açogueiro”, trata-se de meu dileto amigo Filipe Jesuíno. Já passamos por poucas
e boas juntos. Na faculdade ele ainda guardava um pouco do espírito de bad boy que viria a abandonar, como uma
enorme intransigência e teimosia que com a maturidade veio a se transformar em invejável
firmeza de caráter e numa bússula moral das mais precisas. Desde o começo tínhamos
muitos interesses comuns: RPG (que jogamos até hoje), literatura, desenhos
japoneses, quadrinhos. Quando ele deixou cair à pele do bad boy da adolescência as pessoas puderam enxergar tal
generosidade e largueza de espírito que com facilidade passavam a admirá-lo. Estranhamente,
nossas atitudes são das mais opostas, Filipe um sujeito reservado, e eu dos
mais expansivos, mas essas diferenças sempre foram fonte de aprendizado mútuo,
mesmo que a duras penas. Estou prestes a publicar meu primeiro romance, e
Filipe foi o primeiro a lê-lo, não bastasse isso, é o responsável por essa
produção finalmente vir a público. Nossa amizade é também uma parceria de
estudos, que já rendeu bons frutos e creio que produzirá outros mais, e não
tenho receio de afirmar que ninguém incentivou tanto e tão ativamente o meu ofício
de escrever quanto este amigo a quem devo tanto.
O
terceiro dos amigos que quero homenagear hoje é o mais recente destes, mas
parece que nos conhecemos há muito mais tempo. Coincidentemente o conheci no
mesmo dia em que conheci a minha esposa. Conversamos um bom tempo e, depois,
ela me perguntou de onde eu o conhecia, pois julgou que fôssemos velhos amigos,
ao que eu respondi “conheci agora”. Por um bom tempo ela pensou que fosse uma
lorota, e que eu conhecia meu bom amigo Rodrigo Passo-Largo desde muito antes
daquela noite em que nos encontramos. Foi um encontro fortuito, provavelmente
destinado a acontecer. Assim como os dois amigos de quem falei antes, Rodrigo é
um sujeito admirável, conheço poucas pessoas com uma fé tão grande em seus
sonhos quanto ele. Quis o destino que compartilhássemos do mesmo amor pela obra
de Tolkien, digo “o mesmo” como uma lincença poética, pois também não conheço
ninguém com maior estima pela obra de Tolkien quanto meu amigo Rodrigo. Esse laço
comum nos uniu, e a fé do meu amigo tem sido um farol para mim, que também
teimosamente persigo meus sonhos. Associada a essa fé em seu destino há uma
disposição para o trabalho, um entusiasmo contagiante, e uma crença naqueles
que o cercam que fazem esse sagitariano que vos escreve corar de vergonha, é difícil não ser
otimista na presença dele, tudo parece possível e não há obstáculo grande o
bastante para fazê-lo esmorecer. Depois do Filipe, ninguém fez mais para me
incentivar e ajudar no meu caminho do que ele. Nos conhecemos a pouco tempo,
mas já devo ao altíssimo uma enorme gratidão por ter feito nossos caminhos se
cruzarem. Rodrigo persegue seus sonhos com um ardor incomum, um entusiasmo
impressionante, e uma tenacidade única, e, para minha grande ventura, alguns
dos seus sonhos são agora nossos sonhos e logo, logo serão nossas realizações.
Nesse
dia do amigo, desejo a todos os meus amigos, de perto e de longe, que possam
encontrar sempre e mais a amizade, em todo o seu rico e infinito colorido, pois
se há algo que eu sei sobre a amizade é que ela é um tipo de amor e não há nada
mais surpreendente e maravilhoso do que o amor. Aos meus amigos que não
apareceram nessas linhas mal traçadas, saibam que – mesmo que eu raramente o
demonstre – amo, admiro e sinto falta de todos vocês que estão longe. Um bom
dia do amigo.
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