domingo, 20 de julho de 2014

Dia do Amigo

Hoje é o dia do amigo, devo confessar que não entendo muito da amizado enquanto um sentimento abstrato, e que não tenho dotes poéticos para escrever algo emocionante a respeito, todavia o altíssimo me agraciou com bons amigos, e esse texto é uma justa homenagem a eles. Certa feita, um dos amigos de quem vou falar aqui, me relatou um diálogo com o renomado e saudoso José Alcides Pinto, em que esse lhe dizia que se você precisar de mais do que os dedos de uma mão para contar seus amigos genuínos, provavelmente significa que na verdade não possui nenhum. Como disse antes, tive a ventura de ter bons amigos e em bom número, talvez mais do que os dedos de uma mão, mas vou falar aqui de três, e com isso espero homenagear também os demais.

Começo pelo começo, por um dos meus mais antigos e queridos amigos, Alex Sandro Queiroz, por esse nome, creio que somente a mãe dele vai reconhecê-lo, pois é mais conhecido pela alcunha de Freud. Nos conhecemos na sexta série, o Freud morava muito longe da nossa escola e sempre se atrasava, e num desses dias choveu. Havia uns “combogós” como se diz aqui no ceará, e uma parte da sala ficou bem molhada, atrasado, como de costume, muito alto e desengonçado, ele teve que se dirigir a uma das cadeiras molhadas e passou a diligentemente enxugá-la antes de sentar, atrapalhando a aula da professora de matemática, que era uma chata. A lousa estava cheia de uns problemas de matemática envolvendo colchetes, chaves e parênteses e ela se dirigiu ao “limpador de carteiras” e mandou que os resolvesse. Sem pestanejar, ou protestar, ele caminhou até a lousa e, com um giz na mão colocou a resposta correta em todos, para espanto da professora. Não me recordo ao certo como ficamos amigos, mas o certo é que nos tornamos amigos e passamos boa parte do primeiro e segundo graus juntos. Freud sempre foi um homem de excelentes tiradas e, a despeito de sermos amigos, eu não compartilhava seu amor por números e me ressentia das aulas de matemáticas. Um dia, estávamos caminhando em direção à casa dos meus avós, e eu reclamava da matemática e protestava minha preferência pela física, que me parecia bem mais útil. A resposta que ele me deu foi tão sagaz que se marcou a ferro em meu espírito “a matemática é utilizada para tudo, até para erguer esse muro, nem que seja apenas para contar os tijolos”.

O segundo amigo que desejo homenagear eu conheci mais ou menos na mesma época em que travei amizade com o Freud, e ele também estudava na mesma escola, mas era bem mais novo. Nos conhecemos por meio de amigos comuns, por essa época, diferente do bom moço que ele se tornou, era um conhecido bad boy da nossa escola, com o nada meritório apelido de “Jesuíno Açogueiro”, trata-se de meu dileto amigo Filipe Jesuíno. Já passamos por poucas e boas juntos. Na faculdade ele ainda guardava um pouco do espírito de bad boy que viria a abandonar, como uma enorme intransigência e teimosia que com a maturidade veio a se transformar em invejável firmeza de caráter e numa bússula moral das mais precisas. Desde o começo tínhamos muitos interesses comuns: RPG (que jogamos até hoje), literatura, desenhos japoneses, quadrinhos. Quando ele deixou cair à pele do bad boy da adolescência as pessoas puderam enxergar tal generosidade e largueza de espírito que com facilidade passavam a admirá-lo. Estranhamente, nossas atitudes são das mais opostas, Filipe um sujeito reservado, e eu dos mais expansivos, mas essas diferenças sempre foram fonte de aprendizado mútuo, mesmo que a duras penas. Estou prestes a publicar meu primeiro romance, e Filipe foi o primeiro a lê-lo, não bastasse isso, é o responsável por essa produção finalmente vir a público. Nossa amizade é também uma parceria de estudos, que já rendeu bons frutos e creio que produzirá outros mais, e não tenho receio de afirmar que ninguém incentivou tanto e tão ativamente o meu ofício de escrever quanto este amigo a quem devo tanto.

O terceiro dos amigos que quero homenagear hoje é o mais recente destes, mas parece que nos conhecemos há muito mais tempo. Coincidentemente o conheci no mesmo dia em que conheci a minha esposa. Conversamos um bom tempo e, depois, ela me perguntou de onde eu o conhecia, pois julgou que fôssemos velhos amigos, ao que eu respondi “conheci agora”. Por um bom tempo ela pensou que fosse uma lorota, e que eu conhecia meu bom amigo Rodrigo Passo-Largo desde muito antes daquela noite em que nos encontramos. Foi um encontro fortuito, provavelmente destinado a acontecer. Assim como os dois amigos de quem falei antes, Rodrigo é um sujeito admirável, conheço poucas pessoas com uma fé tão grande em seus sonhos quanto ele. Quis o destino que compartilhássemos do mesmo amor pela obra de Tolkien, digo “o mesmo” como uma lincença poética, pois também não conheço ninguém com maior estima pela obra de Tolkien quanto meu amigo Rodrigo. Esse laço comum nos uniu, e a fé do meu amigo tem sido um farol para mim, que também teimosamente persigo meus sonhos. Associada a essa fé em seu destino há uma disposição para o trabalho, um entusiasmo contagiante, e uma crença naqueles que o cercam que fazem esse sagitariano que vos escreve corar de vergonha, é difícil não ser otimista na presença dele, tudo parece possível e não há obstáculo grande o bastante para fazê-lo esmorecer. Depois do Filipe, ninguém fez mais para me incentivar e ajudar no meu caminho do que ele. Nos conhecemos a pouco tempo, mas já devo ao altíssimo uma enorme gratidão por ter feito nossos caminhos se cruzarem. Rodrigo persegue seus sonhos com um ardor incomum, um entusiasmo impressionante, e uma tenacidade única, e, para minha grande ventura, alguns dos seus sonhos são agora nossos sonhos e logo, logo serão nossas realizações.


Nesse dia do amigo, desejo a todos os meus amigos, de perto e de longe, que possam encontrar sempre e mais a amizade, em todo o seu rico e infinito colorido, pois se há algo que eu sei sobre a amizade é que ela é um tipo de amor e não há nada mais surpreendente e maravilhoso do que o amor. Aos meus amigos que não apareceram nessas linhas mal traçadas, saibam que – mesmo que eu raramente o demonstre – amo, admiro e sinto falta de todos vocês que estão longe. Um bom dia do amigo.

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