Amanhã,
pela segunda vez, inicio uma empreitada de tentar ensinar de uma maneira mais
formal algo do que eu aprendi sobre Psicologia Complexa (leia-se Junguiana),
dessa vez com o meu dileto amigo e parceiro de estudos Filipe Jesuíno. Estava ansioso
pra que o nosso curso começasse logo, não sem certo espanto, percebi que há
muitas pessoas interessadas no que temos a dizer, o que me deixa ainda mais
ansioso para começar.
Eu
acredito que poucos autores foram tão incompreendidos quanto Jung, e julgo que
isso preveniu que sua obra tivesse um maior impacto na cultura. Também acredito
que, os maiores responsáveis pela mistificação do opus de Jung não sejam seus
opositores, mas, lamentavelmente, aqueles que sob o rótulo de “junguianos”
praticam quase tudo o que Jung condenava como contrário ao seu método e, principalmente,
de escasso uso prático. A Psicologia de Jung é eminentemente prática.
Todavia,
creio que apontar esses fatos não basta, na verdade não tem muita serventia,
algo que descobri a duras penas. Se há alguma possibilidade de mudar a
realidade, isso não se faz apenas com discursos e menos ainda com proselitismo,
se faz com trabalho duro. Em certo sentido, essa iniciativa é a nossa resposta à
questão de se é possível mudar aquilo que julgamos equivocado nesse universo
daqueles que estudam ou pretendem estudar Jung. Meu amigo Filipe já me advertiu
algumas vezes para a irrealidade dessa minha expectativa, entretanto, a
despeito do meu notável pessimismo no que concerne o laço social que se formou
em torno da obra de Jung, não posso deixar de nutrir um certo otimismo.
Mesmo
otimista, não me acredito ingênuo, há um longo caminho a ser trilhado e uma
quantidade considerável de obstáculos de toda sorte. Além disso, aqueles que interpretam
o Jung da maneira como melhor lhe aprazem, continuarão sempre a fazê-lo, e combatê-los
é como correr atrás do vento. Estudar uma teoria com rigor não significa fazer
uma ortodoxia, ou contrapor o excesso com seu oposto, mas sim agir com a devida
circunspecção levando a sério aquilo que Jung nos legou.
No
meu otimismo em relação a essa nossa empreitada está à certeza de que daremos o
nosso melhor, que temos muito o que compartilhar, que o faremos sem reservas e
da melhor maneira que pudermos. Além disso, contribui para o meu otimismo a
crença de que em cada uma das pessoas interessadas na teoria de Jung reside à
possibilidade de dizer algo de original e que apenas elas podem dizer, e que eu
tenho que me esforçar por encontrar isso em mim e, no máximo, estimular isso em
outrem, sabendo que nenhum de nós tem uma palavra final, pois esta não existe.
No
início dessa empreitada, para não sucumbir à ingenuidade das minhas
expectativas, é fundamental ter em mente as palavras de Virgílio “carpent tua
poma nepotes”, para não sucumbir à tentação da ortodoxia ou da presunção é
crucial recordar o que nos disse Hipócrates “ars longa, vita brevis”. Espero que mais alguém compartilhe do meu
otimismo, e, no futuro, existam muitos frutos a serem colhidos por nossos
netos. Eu devo ser grato, pois certamente sou um dos netos que colheu
avidamente e ainda colhe os frutos da árvore plantada por Jung. Ninguém pode
comer desse fruto sem adquirir junto da nutrição do espírito que ele fornece
uma grande dívida, e imensa responsabilidade, a responsabilidade de cuidar da
semente que vem com ele e de passá-la adiante. O trabalho de plantar é árduo e
requer paciência, mas a memória daqueles que vieram antes de nós deve servir de
exemplo, bem como a esperança pelos que virão, mesmo aqueles não conheceremos,
deve ser nosso estímulo.
Ὁ βίος βραχύς, Vita
brevis,
ἡ δὲ τέχνη μακρή, ars longa,
ὁ δὲ καιρὸς ὀξύς, occasio
praeceps,
ἡ δὲ πεῖρα σφαλερή, experimentum
periculosum,
ἡ δὲ κρίσις χαλεπή. iudicium
difficile.
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