segunda-feira, 2 de março de 2015

BIG HERO 6

Finalmente assisti ao filme Big Hero 6 (operação Big Hero), e, a despeito de estar chateado com o fato do estúdio Gibli ter perdido o Oscar uma vez mais, pude ver qualidades no filme laureado esse ano.

Como todos sabem – mas não custa relembrar – animação não é um gênero narrativo, você pode fazer um filme de qualquer gênero usando animação. Big Hero é um filme que mistura ação, super heróis e ficção científica. Ele é baseado em um quadrinho da Marvel, mas é uma adaptação tão diferente do original que seria melhor dizer que foi “inspirado” nessa HQ (ainda assim a expressão é uma hipérbole).

A película é muito boa, a animação é impecável, e o roteiro é muito bom. É bem verdade que muitos dos mais importantes clichês dos heróis dos quadrinhos americanos estão lá, de maneira clara, mas estão de uma maneira que não é repetitiva, ao contrário, esses velhos clichês quando utilizados de maneira tão criativa insuflam vida as velhas histórias e, não se enganem, Big Hero 6 é uma velha história.


Hiro é um jovem gênio cientista (como Peter Parker e Tony Stark, Batman etc), mas que está perdido e sem ruma desde a morte de seus pais e vive com a tia e o irmão mais velho (como o velho spidey) e, quando finalmente resolve colocar sua mente brilhante para funcionar em prol da humanidade, uma tragédia, e perda pessoal o lança em uma depressão e, depois, o levam a agir para ajudar as pessoas (como nosso velho amigo Peter). Todos os heróis são “science heros” , assim como Hiro, relutam em se tornar heróis e são nerds.

As cenas de ação são muito boas, muito boas mesmo, os conflitos dos personagens, especialmente os conflitos do protagonista e do vilão são bem explorados. O roteiro é inteligente o bastante para tentar nos ludibriar e levar a um plot twist razoavelmente inesperado. Hiro tem momentos de dúvida, raiva, confusão e é um personagem bastante humano e verossímil, é fácil se identificar com ele e compreender sua motivação e, assim como Peter, ele possui um tio Bem que, mesmo morto, continua agindo como bússola moral nos momentos decisivos.

O robô balão, cujo principal objetivo é o de cuidar e curar, é uma imensa lição ambulante para psicólogos e médicos, pois ele também é um personagem que evolui e muda sutilmente, mesmo se mantendo firmemente preso a esses princípios. No fim das contas ele compreende que a saída para a tristeza e sofrimento de Hiro é encontrar um sentido para essa dor e viver a vida plenamente e encontrar algo pelo qual valha a pena lutar, ou, em outras palavras, engendrar um sentido para a existência – mesmo que isso envolva risco e lutas com supervilões.

Há um aspecto metalinguístico no filme que é interessante, pois um dos personagens é leitor de quadrinhos e consegue enxergar a “trama” que subjaz as suas aventuras e percebe que eles estão bem no meio de uma “origin story” de super herói. No fim das contas é um filme bacana, divertido e inteligente. Vale o ingresso.

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