Finalmente
assisti ao filme Big Hero 6 (operação Big Hero), e, a despeito de estar
chateado com o fato do estúdio Gibli ter perdido o Oscar uma vez mais, pude ver
qualidades no filme laureado esse ano.
Como
todos sabem – mas não custa relembrar – animação não é um gênero narrativo,
você pode fazer um filme de qualquer gênero usando animação. Big Hero é um
filme que mistura ação, super heróis e ficção científica. Ele é baseado em um
quadrinho da Marvel, mas é uma adaptação tão diferente do original que seria
melhor dizer que foi “inspirado” nessa HQ (ainda assim a expressão é uma
hipérbole).
A
película é muito boa, a animação é impecável, e o roteiro é muito bom. É bem
verdade que muitos dos mais importantes clichês dos heróis dos quadrinhos
americanos estão lá, de maneira clara, mas estão de uma maneira que não é
repetitiva, ao contrário, esses velhos clichês quando utilizados de maneira tão
criativa insuflam vida as velhas histórias e, não se enganem, Big Hero 6 é uma
velha história.
Hiro
é um jovem gênio cientista (como Peter Parker e Tony Stark, Batman etc), mas
que está perdido e sem ruma desde a morte de seus pais e vive com a tia e o
irmão mais velho (como o velho spidey) e, quando finalmente resolve colocar sua
mente brilhante para funcionar em prol da humanidade, uma tragédia, e perda
pessoal o lança em uma depressão e, depois, o levam a agir para ajudar as
pessoas (como nosso velho amigo Peter). Todos os heróis são “science heros” ,
assim como Hiro, relutam em se tornar heróis e são nerds.
As
cenas de ação são muito boas, muito boas mesmo, os conflitos dos personagens,
especialmente os conflitos do protagonista e do vilão são bem explorados. O roteiro
é inteligente o bastante para tentar nos ludibriar e levar a um plot twist
razoavelmente inesperado. Hiro tem momentos de dúvida, raiva, confusão e é um
personagem bastante humano e verossímil, é fácil se identificar com ele e
compreender sua motivação e, assim como Peter, ele possui um tio Bem que, mesmo
morto, continua agindo como bússola moral nos momentos decisivos.
O
robô balão, cujo principal objetivo é o de cuidar e curar, é uma imensa lição
ambulante para psicólogos e médicos, pois ele também é um personagem que evolui
e muda sutilmente, mesmo se mantendo firmemente preso a esses princípios. No fim
das contas ele compreende que a saída para a tristeza e sofrimento de Hiro é
encontrar um sentido para essa dor e viver a vida plenamente e encontrar algo
pelo qual valha a pena lutar, ou, em outras palavras, engendrar um sentido para
a existência – mesmo que isso envolva risco e lutas com supervilões.
Há
um aspecto metalinguístico no filme que é interessante, pois um dos personagens
é leitor de quadrinhos e consegue enxergar a “trama” que subjaz as suas
aventuras e percebe que eles estão bem no meio de uma “origin story” de super
herói. No fim das contas é um filme bacana, divertido e inteligente. Vale o
ingresso.
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