A
morte de Eduardo Campos nos mostra, especialmente a nós que fazemos análises
políticas, o quão imponderável é a realidade, a sombra da morte paira sobre
todos, ricos e pobres, poderosos e desvalidos. Apesar de seu falecimento, meus
sentimentos a sua família, a eleição continua e a possibilidade de Marina
passar a postular a vaga que era de Campos dá o que pensar.
Marina
foi a queridinha da mídia nas últimas eleições, a tábua de salvação escolhida
pela mídia para combater o PT (da qual ela fez parte), e, mesmo com sua derrota
e o terceiro lugar em número de votos válidos, foi sagrada por essa mesma mídia
como a “grande vencedora” dessa eleição, conceito, no mínimo, estranho para
alguém que chegou em terceiro.
Dessa
vez o queridinho da mídia é Aécio, ou deveria ser, não estivesse ele enrolado
com aeroportos e helicópteros suspeitos. Mesmo com tudo isso, todavia, não
creio que ele tenha perdido o apoio da grande mídia, comprometida em combater o
projeto petista personificado por Dilma. Ainda assim, mesmo sem o favoritismo
da imprensa, Marina é um elemento que altera significativamente o quadro dessas
eleições.
A
ex-senadora é uma conhecida ambientalista, e essa sempre foi sua principal
bandeira, a despeito de ter se convertido em mero slogan em seus discursos
hodiernos, sua crítica ao modelo de desenvolvimento petista, que poderia ser
mais virulenta e interessante, é insipiente e insossa. O que mais me chama
atenção em Marina é o seu patente e atroz obscurantismo. Logo depois da
inauguração do novo templo de Salomão, e de um avanço dos políticos ligados ao
protestantismo, não me parece nada auspicioso ver Marina de volta a disputa
pela presidência. A despeito de sua longa trajetória de militância de esquerda,
Marina abraça com fervor as bandeiras neo-pentecostais, as mesmas defendidas
pelo já folclórico pastor e deputado Marco Feliciano. Ela pode muito bem se
converter em uma candidatura neo-pentecostal mais viável para os eleitores
protestantes, por sorte, sua falta de tato e habilidade pode impedir tal coisa,
bem como a sua saúde bastante debilitada.
Marina,
em virtude de suas crenças religiosas, imporia ao nosso estado laico, uma
agenda obscurantista que teria os aplausos entusiasmados de Bolsonaro, Feliciano
e Malafaia, e poderia gerar a mesma tensão que existe nos Estados Unidos, com
debates acalorados sobre ensino de criacionismo nas escolas e outras bobagens
do gênero, mas isso é o de menos. Ela pode barrar avanços sociais importantes
para os grupos homossexuais, que na nossa república têm todos os deveres, mas
nem todos os direitos, e para as mulheres. Deus nos livre de a candidatura de
Marina se tornar a porta-voz dos evangélicos do país e que ela tenha reais
condições de disputar essas eleições.
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