quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A volta de Marina a disputa presidencial


A morte de Eduardo Campos nos mostra, especialmente a nós que fazemos análises políticas, o quão imponderável é a realidade, a sombra da morte paira sobre todos, ricos e pobres, poderosos e desvalidos. Apesar de seu falecimento, meus sentimentos a sua família, a eleição continua e a possibilidade de Marina passar a postular a vaga que era de Campos dá o que pensar.

Marina foi a queridinha da mídia nas últimas eleições, a tábua de salvação escolhida pela mídia para combater o PT (da qual ela fez parte), e, mesmo com sua derrota e o terceiro lugar em número de votos válidos, foi sagrada por essa mesma mídia como a “grande vencedora” dessa eleição, conceito, no mínimo, estranho para alguém que chegou em terceiro.

Dessa vez o queridinho da mídia é Aécio, ou deveria ser, não estivesse ele enrolado com aeroportos e helicópteros suspeitos. Mesmo com tudo isso, todavia, não creio que ele tenha perdido o apoio da grande mídia, comprometida em combater o projeto petista personificado por Dilma. Ainda assim, mesmo sem o favoritismo da imprensa, Marina é um elemento que altera significativamente o quadro dessas eleições.
A ex-senadora é uma conhecida ambientalista, e essa sempre foi sua principal bandeira, a despeito de ter se convertido em mero slogan em seus discursos hodiernos, sua crítica ao modelo de desenvolvimento petista, que poderia ser mais virulenta e interessante, é insipiente e insossa. O que mais me chama atenção em Marina é o seu patente e atroz obscurantismo. Logo depois da inauguração do novo templo de Salomão, e de um avanço dos políticos ligados ao protestantismo, não me parece nada auspicioso ver Marina de volta a disputa pela presidência. A despeito de sua longa trajetória de militância de esquerda, Marina abraça com fervor as bandeiras neo-pentecostais, as mesmas defendidas pelo já folclórico pastor e deputado Marco Feliciano. Ela pode muito bem se converter em uma candidatura neo-pentecostal mais viável para os eleitores protestantes, por sorte, sua falta de tato e habilidade pode impedir tal coisa, bem como a sua saúde bastante debilitada.

Marina, em virtude de suas crenças religiosas, imporia ao nosso estado laico, uma agenda obscurantista que teria os aplausos entusiasmados de Bolsonaro, Feliciano e Malafaia, e poderia gerar a mesma tensão que existe nos Estados Unidos, com debates acalorados sobre ensino de criacionismo nas escolas e outras bobagens do gênero, mas isso é o de menos. Ela pode barrar avanços sociais importantes para os grupos homossexuais, que na nossa república têm todos os deveres, mas nem todos os direitos, e para as mulheres. Deus nos livre de a candidatura de Marina se tornar a porta-voz dos evangélicos do país e que ela tenha reais condições de disputar essas eleições.

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