Em muitos anos de intenso e diário treino como artista marcial, mais de uma vez refleti sobre a minha prática e os ensinamentos que recebi. uma dessas reflexões é justamente sobre a razão de ser do treino das técnicas e formas (katys e katas) da maneira "formal", ou seja, com um modelo de aplicação pré-estabelecido e esteriotipado.
começo logo explicando o final da história, citando o mestre de Wing Chun Moy Yat: "Kung Fu sem forma não é Kung Fu, Kung Fu que precisa de forma não é bom Kung Fu". Em síntese, o mestre Moy Yat disse tudo, mas analisar esse tudo, expor o significado profundo dessa frase e toda a sabedoria que ela esconde e revela é um pouco mais trabalhoso e demorado. há não muito tempo, assisti a uma palestra de outro mestre de Wing Chun, ele criticava artes marciais que ensinavam técnicas que dependiam de um contexto específico e mostrou que, no caso de sua arte marcial, a mesma técnica simples se aplicava a diversas situações e que o domínio do espaço e do tempo representava o aspecto mais importante.
começo logo explicando o final da história, citando o mestre de Wing Chun Moy Yat: "Kung Fu sem forma não é Kung Fu, Kung Fu que precisa de forma não é bom Kung Fu". Em síntese, o mestre Moy Yat disse tudo, mas analisar esse tudo, expor o significado profundo dessa frase e toda a sabedoria que ela esconde e revela é um pouco mais trabalhoso e demorado. há não muito tempo, assisti a uma palestra de outro mestre de Wing Chun, ele criticava artes marciais que ensinavam técnicas que dependiam de um contexto específico e mostrou que, no caso de sua arte marcial, a mesma técnica simples se aplicava a diversas situações e que o domínio do espaço e do tempo representava o aspecto mais importante.
Se, de fato, o objetivo de aprender as técnicas fosse aplicá-las apenas no contexto formal - alguém lhe agarra a lapela e você em seguida lhe torce o pulso - nesse caso ele estaria certo, pois as possibilidades de ocorrências numa luta são praticamente infinitas, dessa maneira seria preciso memorizar centenas ou milhares de técnicas e usá-las a cada momento em que ela fosse cabível. felizmente, esse não é o caso, na realidade, isso é apenas parcialmente verdadeiro.
infelizmente, existe por parte de muitos particantes e professores, uma profunda incompreensão que os leva a pensarem dessa maneira, pois não compreendem a vacuidade, e suas implicações nas artes de luta. devido a essa incompreensão, muitos professam o que o tal mestre de Wing Chum criticou, mas é preciso que se diga que eles não alcançam uma compreensão mais sofisticada, cristalizando os primeiros entendimentos de seus anos iniciais de treinamento.
Meu mestre, grão mestre Chan Kwok Wai, costumeiramente diz que cada movimento dos Katys pode ter no mínimo três e no máximo mil formas de aplicação, o que isso significa? uma técnica não lhe ensina a escapar ou reagir a uma situação específica, essa compreensão só se aplica ao "jardim de infância" da arte marcial, pois se assim fosse, ela só seria aplicável tal e qual em, na melhor das hipóteses, 10% das situações reais. na realidade, para além do aspecto formal, necessário ao ensino e a transmissão, ela ensina um determinado sentimento, sentimento esse que, não tem forma, e assume qualquer forma que momentaneamente se manifeste num momento de luta real.
de fato, essa é uma compreensão que depende, em larga medida, da compreensão de algum nível do Prajna Paramita: "vazio é forma, forma é vazio, vazio é vazio, forma é forma". é claro que, sendo o vazio não um conceito, mas uma realidade, ele pode ser compreendido ou percebido através dos treinos. todavia, a meditação e o estudo do budismo - que está na raiz do desenvolvimento, treinos e técnicas das artes marciais orientais - facilita grandemente a aquisição do insight necessário a um nível mais elevado da técnica. uma maneira de perceber isso é através da inifinitas variações que uma mesma técnica pode ter, o que se preserva nas variações não é a forma, que muda, mas o mesmo sentimento que permanece em todas. a percepção da vacuidade permite que se utilize a arte marcial, de maneira natural e espontânea, as "dez mil" situações que surgem numa situação real de conflito.
em certa medida, se aprende a forma para abandonar a forma. ela só não é abandonada completamente para finalidade de ensino, pois esse método permite que outras pessoas passem por esse processo. quando a "forma" perde sua solidez, quando se percebe sua raiz ilusória de vacuidade, é possível olhar para ela e perceber não uma única coisa, mas numa visão clara e precisa, enxergar "dez mil coisas".
Nenhum comentário:
Postar um comentário